Em 2015, António Costa engatilhou uma série de sonhos num documento a que chamou “Programa Eleitoral”. Chamou-lhe assim e jurou que palavra dada seria palavra honrada.

2019 é ano de eleições legislativas e cabe agora aos portugueses avaliar este mandato. Esta avaliação passa, em primeiro lugar, por uma confrontação entre aquilo que foram as promessas eleitorais e os resultados obtidos ao longo de quatro anos de socialismo.

No seu programa eleitoral, o PS prometia “Combater a precariedade laboral”. Ora, nunca nos últimos 15 anos estivemos tão mal. Nem nos tempos da bancarrota; nem nos tempos da troika. Um terço dos vínculos laborais no setor privado são precários. No essencial, contratos a termo e os ditos recibos verdes. Atrás de nós no espaço da União Europeia, apenas a Espanha e a Polónia.

“Defender o SNS, promover a saúde”. Outra das prioridades, outro dos falhanços de António Costa e da Frente de Esquerda. Médicos, Enfermeiros, Administrações Hospitalares, empresas privadas da saúde, farmacêuticas com milhões em créditos adiados. Todos estão em guerra com o Governo. Aumenta o tempo de espera para consultas. Aumenta a mediana do tempo de espera para cirurgias que vem a subir e atinge já quase 4 meses. Sucedem-se as greves.

Outra das prioridades, o da “Convergência com a Europa”, é aquele que deve ser o grande desígnio nacional de Portugal para os próximos anos. Quem se apoderou deste tema foi Pedro Santana Lopes e não foi apenas agora com a Aliança. Já falava deste grande objetivo em 2008, em 2005, em 1993. Portugal continua a crescer pouco e sabe a pouco quando dados recentes afirmam que conseguimos umas décimas acima do crescimento médio da U.E., sobretudo quando tal se deve, não a um aumento do nosso crescimento económico, mas antes ao abrandamento da economia europeia. Continuamos a cortar na ambição e a não promover a nossa autonomia global.

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Percorrido todo o programa eleitoral do PS, é difícil vislumbrar onde e quando foi a palavra dada verdadeiramente honrada, mas há ainda outro capítulo com um indicador determinante para avaliar o sucesso ou insucesso desta governação. O indicador do rendimento disponível para as famílias. É que ainda que estejamos hoje com a maior carga fiscal de que há memória, a Frente de Esquerda não se cansa de exultar este indicador que tem registado uma ligeira queda mas ainda assim umas décimas acima da média europeia. Este é porém dos mais falaciosos indicadores, que não consegue aplicar qualquer correção às disparidades salariais que em Portugal se vêm acentuando. Ou seja, não sabemos que fatia do rendimento vai para os mais ricos e que fatia sobra para os mais pobres e, assim, não sabemos quanto sobra a alguém que vive de um salário chorudo de € 900,00 brutos como é o caso de tantos dos profissionais quer da administração pública quer do setor privado.

O que sabemos é que há polícias a dormir em carros porque não têm dinheiro para pagar uma renda de casa nos grandes centros urbanos. O que sabemos é que há enfermeiros com as vidas congeladas e salários indignos. O que sabemos é que estamos em mínimos históricos de poupanças privadas. O que sabemos é que continuamos no núcleo da crise do malparado e que empresas e particulares continuam incapazes de pagar créditos. E sabemos hoje que deste rendimento disponível, em média 80% serve para pagar dívidas à banca quando essa taxa de esforço se devia ficar pelos 35%.

O que sabemos é que este é o Portugal real. O resto, são rosas.