Sabia que o PAN faz parte do mesmo grupo no Parlamento Europeu que os partidos Pirata da Alemanha e da República Checa?

Para que não haja qualquer dúvida, este texto não discute a realidade da emergência climática. Esta é muitas vezes tratada como uma questão de fé, de acreditar ou não acreditar, na existência de um problema climático, quando na verdade se trata de uma questão de ciência.

Essa questão fica fora deste texto.

Aquilo para que quero verdadeiramente alertar é para a politização do tema. Não é de agora. Lembro-me bem de quando era muito novo, estudava no secundário, frequentar sessões da Quercus, creio até que me fiz associado, e de me sugerirem juntar-me à juventude partidária de um determinado partido político. Um partido de esquerda pois claro.

Em 1999 foi escrito um texto relativamente importante sobre a importância dos partidos Verdes no cenário político Europeu. Além de muitas outras questões, uma das que fica clara é aquilo a que o autor chamava de necessidade de uniformização doutrinária dos partidos “verdes” com um traço comum – uma agenda coletiva de responsabilização dos Estados e do Indivíduo. Já lá vamos.

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Al Gore perdeu umas eleições para Presidente dos EUA e iniciou um caminho de afirmação de uma agenda liberal para o ambiente. Apenas uma nota para o facto de que quando naquele país se fala em agenda liberal, fala-se essencialmente de uma agenda de esquerda.

Lentamente os partidos políticos com agendas monotemáticas têm vindo a ganhar terreno, sobretudo pela Europa e sobretudo numa era da comunicação onde less is more. É muito mais fácil perceber e até simpatizar com a agenda política de um partido verde, do que perceber e simpatizar com um partido com aspirações de governo. Esquerda e Direita divergem, por exemplo, sobre a prioridade a dar ao investimento público ou à carga fiscal, mas todos concordamos que não queremos mais poluição. Queremos mais ambiente.

Esta é a tendência que veio substituir a agenda digital que provou não dar votos. Os programas políticos eram desadequados mesmo quando as novas tecnologias eram a tendência da moda. É que mais tecnologia é associado a menos emprego. Mais ambiente é mais vida.

Mas voltando atrás, ao tal texto, salvo erro escrito em Sheffield para um Doutoramento, a agenda coletivista implicava responsabilizar os Estados e o Indivíduo pela deterioração do ambiente. Parece razoável certo? Errado.

Em primeiro lugar, a responsabilização do Indivíduo e a dos Estados tem que ter uma agenda diferente. A responsabilização dos Estados faz parte de um processo progressista e evolutivo que tem que assentar essencialmente na negociação, lobbying e compromisso em sede de relações internacionais. Estas, são muitas vezes, um reflexo indireto dos interesses dos Estados e nenhum Estado quer estar sob o jugo da responsabilidade internacional. Naturalmente. É a sua soberania que está em causa. Por que outro motivo acham que o projeto de artigos sobre a responsabilidade internacional dos Estados por atos ilícitos nunca foi por diante?

Ora, quem menos quer este aprofundamento das relações internacionais é precisamente a esquerda. Curiosamente, aquela mesma esquerda que combatia a Globalização. Lembram-se? Lembram-se dos protestos contra a Globalização? O que é feito deles? Foram consumidos pela necessária Globalização deste interesse. O ambiente. O ambiente e a necessidade de imposição de medidas sobre os Estados e o Indivíduo.

Aliás, na semana passada, na cimeira da ONU, assistimos ao mundo invertido. O mundo a dizer que a Amazónia é património mundial e o presidente do Brasil a dizer que é território do Brasil. Os socialistas e comunistas a defenderem a globalização de um interesse e um capitalista a defender as fronteiras. Irónico.

No entanto, sobre o indivíduo, a melhor forma, acredito, de o responsabilizar é por via da consciencialização. Pela educação. Durante anos fomos ensinados a separar o lixo favorecendo a reciclagem. Hoje todos o fazemos e não precisamos de leis e regulamentos sancionatórios para o fazer. Fazemo-lo porque percebemos que é a atitude (cívica) certa.

Acontece que é a agenda impositiva que está a vencer e os partidos coletivistas, os tais que referia esse estudo, que estão a ganhar terreno.

Atirar beatas para o chão paga multa do mesmo modo que os Estados que poluam acima das suas quotas, pagam multas. Empresas pagam licenças para poluir e pagam multas se poluírem mais do que podem. A Estatização dos elementares princípios ambientalistas e a sua coletivização, está a sequestrar aquela agenda educativa da era em que, por exemplo, nasceu o MPT, um partido de direita e ecologista.

Hoje, todos os partidos têm uma agenda para o ambiente e até acredito que com reais propósitos progressistas ou no mínimo reformistas. A forma como a implementam, aí é que varia. Uns mais focados na formação e construção de uma real consciência do problema; outros com uma agenda coletivista e punitiva.

Recentemente, nestas eleições europeias, os partidos Verdes aumentaram como nunca antes a sua representação parlamentar. Ao todo, partidos verdes elegeram 69 eurodeputados. O Grupo Europeu Greens/EFA, tem 74 eurodeputados e é composto por partidos Verdes, Socialistas, Regionalistas e Piratas. Sim, os Piratas Alemães e os Piratas Checos. E já agora, desde Maio de 2019, os piratas, socialistas e regionalistas do PAN.