Para muitos, parece que para se ser candidato a um cargo político não é permitido ser-se jornalista ou comentador de política. Pode ser-se tudo na vida — mas jornalista jamais.
Seja o Sebastião Bugalho ou o sapateiro da minha rua, ambos o direito de ser candidatos ao que quiserem.
Ser jornalista ou comentador é uma mera profissão como todas as outras. O jornalista – comentador tem opinião, tem a sua ideologia e tem como todos, o direito de a exprimir e da escrever. Goste-se ou não, as coisas são assim e são naturalmente assim.
Quando se pergunta qual a razão porque Sebastião Bugalho não deveria aceitar o lugar de cabeça de lista pela AD às eleições europeias, ninguém nos dá uma reposta concreta. Fala-se em perspicuidade entre o jornalismo e a política e justifica-se vagamente o que na na minha opinião é injustificável . Os comentadores são em primeiro lugar cidadãos e terão o direito à sua ideologia e à sua opinião livre e sem qualquer condicionamento.
Também Marques Mendes faz comentário político e não será essa a razão que o impedirá de, se o próprio quiser, ser candidato às Presidências. Também Marcelo Rebelo de Sousa esteve ligado ao jornalismo e ao comentário político durante anos, utilizando esse facto como trampolim para chegar à Presidência da Republica.
Não precisará o Sebastião de defesa daquilo que muitos o acusam, na medida em que ele será um homem livre com ideologia conhecida e já foi candidato à Assembleia da República pelo CDS – independente – com Assunção Cristas. Não teria sido eleito e recusando posteriormente ingressar no lugar de Rita Bessa em Setembro de 2021.
Quando o jovem Bugalho foi candidato à Assembleia da República não me recordo de tanto alarido e incómodo, mas parece que agora, encabeçando a lista da AD, o incómodo para muitos é evidente. Talvez não o fosse se o mesmo Bugalho no lugar de ser o número 1 fosse o número 6, 7 ou 8 . Aí parece que tudo estaria na paz dos anjos.
O incómodo é mesmo o jornalista – comentador ser o número 1, o cabeça de lista que para muitos não deveria de ser por Bugalho ser o que é, um jovem que sempre se assumiu de direita, católico e conservador. De facto, e talvez seja esta a questão de fundo, qualquer cidadão, tenha ele a profissão que tiver, tem o direito de ser candidato ao que quiser. O povo, é aquele que tem o poder nas mãos cabendo a tarefa a ele de decidir da “vida” política de um qualquer cidadão que se proponha a um cargo político.
Não entender o direito de Sebastião Bugalho ou de um outro qualquer cidadão que se considere mediático, em ser candidato ao que quer que seja, é inverter os preceitos democráticos que permitem a um qualquer indivíduo de ser portador de um mandato político. É comum ouvir-se que a política cheira a bafio e que ela é composta pelos mesmos de sempre afastando os cidadãos da vida política.
Pois bem, a figura de Sebastião Bugalho, que agora vem abrir uma nova janela para deixar entrar um pouco de ar fresco. Criticando a política por se fechar dentro de si mesma, agora que se alargou a visão de como se deve ver os agentes políticos, a crítica chega sem dó nem piedade. Tal como diz a sabedoria popular, preso por ter cão e preso por não ter .
Sabendo que a experiência política do cabeça de lista pela AD, é nula, não significará este facto que o candidato não se torne um bom elemento. Há que esperar para ver, para avaliar e fazer no fim do mandato o respectivo balanço. É no fim que as contas são feitas.
Era o que mais faltava, que num Estado de Direito Democrático por exemplo João Miguel Tavares não pudesse ser candidato porque também é comentador, com opinião livre.
Tudo isto faz transparecer que só alguns podem aceder ao lugar a candidatos e quando o país assiste a alguém que tem a coragem de assumir um papel que não é comum, todos se esquecem que a política também é abrir o leque a outros que sendo mais jovens poderão ser úteis à sociedade. O idadismo que assola os críticos, é um preconceito totalmente anti democrático e a falta de experiência política é um argumento falacioso, e de facto é preciso mais Bugalhos na sociedade portuguesa que conseguem trazer uma nova visão das coisas.
De facto, somos um país tramado, e os que vem à praça pública tecer as mais duras críticas aos políticos que não abrem a porta a outros protagonistas são os mesmos que agora os acusam de taticismo quando se escolhe alguém que não é convencional.
Deixem o Bugalho em paz, deixem a democracia funcionar porque ser candidato a deputado é um acto de coragem que deve ser aplaudido e não criticado.