No início do século XXI, cientistas do Hadley Centre alertaram para um fenómeno que se viria a confirmar nas décadas seguintes: mesmo que cessássemos imediatamente todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE), a Terra continuaria a sofrer alterações climáticas significativas devido ao CO2 já acumulado na atmosfera. Passados mais de vinte anos, agora em 2024, observamos que esse cenário de permanência e efeitos dos GEE, não só se confirmou, como se agravou, revelando a escalada e magnitude dessas mudanças climáticas e a urgência no seu combate.

A União Europeia tem liderado os esforços globais ao estabelecer a meta ambiciosa de alcançar a neutralidade de carbono até 2050, um objetivo agora partilhado por muitos outros países. Os avanços tecnológicos no campo das energias renováveis, como a solar e a eólica, têm excedido as expectativas. Estas fontes de energia, agora mais eficientes e economicamente viáveis, são peças centrais nos esforços de descarbonização global. A eletrificação dos transportes também avançou significativamente, com muitas cidades europeias a adotar frotas de transportes públicos totalmente elétricos e a expandir infraestruturas de carregamento.

Além desses avanços, a tecnologia de captura e armazenamento de carbono, evoluiu, embora ainda enfrente desafios significativos em termos de viabilidade económica e quanto à sua logística para implementação em larga escala. Os sistemas de informação geográfica e os modelos climáticos tornaram-se mais precisos, permitindo previsões mais eficazes e uma melhor preparação para eventos climáticos extremos.

Um exemplo recente da necessidade de preparação para tais eventos é o caso das chuvas torrenciais e inundações em Porto Alegre, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Este evento dramático sublinha a urgência de implementar sistemas de alerta precoce e planos de emergência climática, robustos e eficazes. Mesmo que reduzíssemos hoje todas as emissões, as consequências das ações passadas ainda se manifestariam durante muitas décadas, tornando tais sistemas essenciais para a nossa resiliência futura.

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Outro exemplo alarmante é o aumento dos incêndios florestais em várias regiões do mundo, agravados por temperaturas mais elevadas e períodos de seca prolongados. Estes incêndios não só devastam ecossistemas e biodiversidade, mas também emitem grandes quantidades de CO2, agravando ainda mais o efeito estufa. A frequência e intensidade destes incêndios têm impulsionado a necessidade de desenvolver sistemas avançados de deteção e combate a incêndios, assim como estratégias de gestão florestal que possam mitigar o risco de incêndios antes que estes ocorram.

Olhando para o futuro, se continuarmos no ritmo atual, é provável que o aumento médio da temperatura global exceda 2°C acima dos níveis pré-industriais antes de 2100. Este cenário alarmante sublinha a importância de não só reduzir as emissões, mas também de adaptar as nossas infraestruturas e comunidades para lidar com eventos extremos que se tornarão mais frequentes e severos. Como tal, a adaptação é agora tão crucial quanto a mitigação.

Precisamos desenvolver e implementar planos de emergência que contemplem medidas como: barreiras contra inundações, sistemas de drenagem melhorados, estratégias de gestão florestal avançadas, e técnicas de prevenção e combate a incêndios adaptadas às condições específicas de cada região. Para as cheias, é essencial implementar soluções de infraestruturas verdes, como a criação de zonas de absorção naturais e a restauração de zonas húmidas que podem ajudar na absorção do excesso de água e reduzir o impacto das inundações.

No que diz respeito aos incêndios, é necessário investir em tecnologia de deteção precoce, como satélites, drones e robots autónomos equipados com sensores térmicos que possam identificar focos de calor antes que se transformem em incêndios de grande escala. Além disso, a gestão florestal preventiva, que inclui a limpeza regular de matas e a implementação de faixas corta-fogo, assim como a introdução de novas técnicas de uso do solo, podem reduzir significativamente a probabilidade de incêndios florestais devastadores.

Além das medidas técnicas, o investimento em educação e sensibilização sobre as alterações climáticas é fundamental. É imperativo que cada pessoa compreenda o impacto das suas ações no ambiente e seja incentivada a participar ativamente na prevenção e resposta a desastres. Isto pode ser alcançado através de programas educativos que foquem tanto as práticas sustentáveis no quotidiano, como na preparação para emergências, garantindo que as comunidades não só estejam mais protegidas, mas também mais informadas e capacitadas para encarar os desafios das alterações climáticas.

Enfrentamos um desafio sem precedentes, uma verdadeira corrida contra o tempo que nos obriga a superar os limites da inovação e a redefinir as fronteiras da política ambiental. A cooperação internacional, a inovação tecnológica contínua e a implementação de políticas eficazes não são apenas necessárias, são imperativas para forjar um futuro no qual possamos coexistir pacificamente com um planeta profundamente alterado.

O tempo de agir de forma decisiva e visionária está a esgotar-se rapidamente. Cada momento que deixamos passar sem ação diminui a janela de oportunidade para mitigar os impactos devastadores das mudanças climáticas e preservar, a integridade dos ecossistemas, por sua vez, a nossa sobrevivência. Este é o momento de agir com audácia e determinação, de assumir a liderança na transformação de desafios em oportunidades, assegurando que ainda podemos alterar a rota de colisão em que seguimos e o fim trágico a que tal nos levará.