De acordo com um estudo recente, Portugal posicionou-se em 8º lugar entre os países da Europa na atração de investimento direto no estrangeiro. De acordo com a consultora E&Y, em 2021 foram anunciados 200 projetos com potencial para gerar 28 mil postos de trabalho, um valor três vezes maior do que o registado em 2020.

O sector de software e IT, foi responsável por 33% dos projetos, evidenciando a dinâmica de crescimento da economia digital e o reconhecimento do talento nacional.

Os fatores de atratividade para o investimento estrangeiro são por demais conhecidos: qualidade de vida, facilidade de integração, segurança, estabilidade social, baixo custo de vida, e rede de infraestruturas, entre outros.

Mas, para além da criação de postos de trabalho, seria também interessante avaliar o impacto do investimento estrangeiro na criação de valor económico.

Isto porque, aqui e ali, vamos paulatinamente recebendo notícias sobre a venda de empresas de referência a grupos estrangeiros.

Num estudo recente da Savills, Portugal aparece como o segundo país mais atrativo para “industrial nearshoring”, atrás da República Checa.

Na “ressaca” da pandemia, as multinacionais estão a optar por localizar os centros de produção mais perto do consumidor final e tomam decisões em função da legislação ambiental e de trabalho, do ambiente de negócio, fatores de produção e infraestruturas, entre outros.

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Recentemente, o Instituto Europeu de Patentes (IEP) também sinalizou Portugal como referência na dinâmica de inovação tecnológica. Em 2021, foram apresentados 286 pedidos de patentes ao IEP, o que representa um aumento de cerca de 14% face a igual do período do ano anterior.

Neste contexto, as empresas portuguesas com credenciais robustas em produto/inovação têm uma janela de oportunidade para encontrar parceiros estratégicos internacionais. Mas uma parceria estratégica é muito mais do que a mera contratação da produção ou prestação de serviço. Porque pode desencadear um ciclo virtuoso de investimento, produtividade e criação de valor, que reforce a sustentabilidade do negócio e permita aumentar salários para mitigar a fuga de talento para o exterior.

No acesso ao mercado internacional, os números evidenciam a resiliência das empresas portuguesas num contexto macroeconómico bastante adverso.

Nos primeiros cinco meses do ano, o valor das exportações ascendeu a 45.558 milhões de euros (+36 por cento), destacando-se a retoma dos Serviços de Viagens e Turismo e dos Transportes, dois sectores críticos para a economia nacional pelo peso que têm nas exportações (aproximadamente 30% na exportação de bens e serviços e mais de 70% na exportação de serviços).

Mas os constrangimentos estruturais no acesso ao mercado internacional permanecem. A escala do negócio internacional é muito pequena e não oferece competitividade às empresas portuguesas.

Segundo o INE, em 2021, apenas 23.045 empresas foram consideradas exportadoras, e cerca de 80% exportaram individualmente até um milhão de euros.

Em termos de diversificação de mercados, 10.905 empresas exportaram para apenas um país. Espanha foi o principal mercado de exportação em valor e em número de empresas, e representou em média mais de 60% das exportações totais das empresas que venderam para esse mercado.

Na última década, houve uma evolução positiva do rácio de internacionalização das empresas portuguesas, mas continuamos substancialmente atrás da média na EU, e esta atrás de outras regiões mundiais.

De acordo com um estudo da Informa D&B de junho 2020, o segmento das empresas de média dimensão foi o que mais cresceu na última década, mas apenas 1.508 são exportadoras num universo de 3.351 empresas que faturam entre 10 e 50 milhões de euros, uma escala demasiado pequena para lidar com os desafios da internacionalização.

Ainda segundo o mesmo estudo, a intensidade exportadora é bastante menor em empresas detidas por capital nacional comparativamente com empresas detidas por capital estrangeiro. Dando substância a esta afirmação, pode dizer-se que 10% das empresas exportadoras são detidas por capital estrangeiro e representam 40% das exportações.

Neste contexto, é preciso adotar modelos colaborativos para a internacionalização. As empresas precisam de estar integradas em redes de conhecimento e de negócio. Precisam de integrar parcerias estratégicas para ganhar escala, diluir os custos de internacionalização e entrar em novos mercados com mais preparação. E têm que evoluir do modelo de exportação para a presença direta em mercados-chave, assente numa estratégia de internacionalização que promova o crescimento internacional sustentado por critérios de rentabilidade e criação de valor.

Em Portugal não existe uma cultura de parcerias estratégicas, mas, tanto no investimento direto estrangeiro como na internacionalização, elas podem ser virtuosas desde que as partes se identifiquem nos valores, reconheçam as diferenças e promovam o alinhamento estratégico para a criação de valor para ambas as partes. Win-win, porque não?

Há que saber aproveitar as janelas de oportunidade deste alucinante mundo de oportunidades.