Sou da geração de 60/70, tirei o curso de Gestão na Católica e vi o país desenvolver-se com a dinâmica das multinacionais e os apoios da União Europeia. Depois de tanto investimento, e tantas gerações tão bem preparadas para abraçar o futuro, sinto-me inconformada com o estado anémico da nossa economia. Abundam os diagnósticos de situação e as estatísticas são cada vez mais tristes.

Criamos facilmente ilusões e somos um povo de gente esforçada. Mas ilusões e esforço não significam eficiência, produtividade e crescimento.

Culturalmente, temos tanto de engenho como de ineficiência coletiva, e os resultados acabam por ser parcos. Porquê? Porque escasseia o planeamento alimentado de consciência crítica sobre alternativas e custos de oportunidade, bem alicerçado e com medidas de impacto. Ou seja, atira-se o dinheiro para cima dos problemas e espera-se que estes se resolvam. Não se resolvem!

Recentemente, a expressão “consórcios de investimento” entrou no nosso léxico empresarial, mas será que estamos preparados para colaborar e explorar sinergias coletivas? O que é que estamos a fazer para desenvolver essa competência estratégica que ainda não demonstrámos ter?

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Precisamos de um ecossistema empresarial vibrante para inovar e criar valor.

Quando falamos de empreendedorismo e inovação vem-nos logo à mente a promissora geração de start-ups tecnológicas e os seis unicórnios que já valem mais de 34 mil milhões de euros e tanta notoriedade dão a Portugal. São empresas “born global” em todos os sentidos, têm organizações ágeis, altamente eficientes, e estão a escalar o seu negócio para singrar no mercado global. Será que estamos a fazer o suficiente para facilitar o crescimento destas empresas e a reter valor na economia portuguesa?

No artigo da Mckinsey “How Europe’s top tech start-ups get it right” Portugal não aparece entre os “top 12 countries of origin of top European start-ups and scale-ups”. Vale a pena ler…

E para além das start-ups, o que temos? Temos médias e grandes empresas que contribuem com significado para a economia nacional. Mas, segundo a Pordata, a produtividade por hora trabalhada situa-se 33% abaixo da média da UE27 e permanece ao nível de 1995. Para criar mais valor estas empresas precisam de fazer transformações que não ocorrem de um dia para o outro. Podem acelerar este processo investindo em conhecimento e no desenvolvimento de competências, trabalhando em rede, e capitalizando na experiência das que vão mais à frente. E será que as instituições e os agentes promotores do desenvolvimento económico já se reposicionaram para facilitar esta transformação estrutural?

Precisamos que as nossas empresas se internacionalizem com sustentabilidade.

De acordo com a Informa DB, 40% das exportações nacionais são asseguradas por empresas de capital estrangeiro. O tecido empresarial tem pouco mais de trezentas e trinta mil empresas, e apenas mil e quinhentas de média dimensão respondem por 45% das exportações. Muitas internacionalizaram-se nos últimos quinze anos. E contam-se pelos dedos das mãos as que já fizeram investimento direto no estrangeiro.

A insuficiente internacionalização é, no meu entender, o maior handicap da nossa economia.

Sabemos que os riscos da internacionalização são muito elevados, é necessário ter robustez financeira para aguentar os ciclos de entrada em novos mercados – porque é que os empresários não colaboram para explorar sinergias e mitigar o risco?

Também sabemos que escala significa competitividade, mas os empresários alegam que o nosso sistema fiscal incentiva a proliferação de empresas de pequena e média dimensão – será que conseguimos alterar esta realidade?

Em suma, precisamos de lideranças culturalmente abertas, organizações preparadas e condições favoráveis para a internacionalização das nossas empresas.

Há tanto para fazer que só temos mesmo é que acordar todos os dias com sentido de missão e uma verdade universal em mente para nos dar alento: o caminho faz-se caminhando, e em rede.

Haja caminho!