O ambiente universitário, que deveria ser um espaço de crescimento pessoal e  académico, está a ser manchado por uma realidade preocupante: o assédio. A recente  notícia de que a Universidade de Lisboa recebeu 50 queixas de assédio, das quais  apenas 16% resultaram em sanções, levanta questões sérias sobre a forma como estas  instituições lidam com este problema. Mais alarmante ainda é saber que universidades  como Coimbra, Porto e Algarve não aplicaram qualquer punição, mesmo tendo recebido  queixas.

O assédio, seja ele moral, sexual ou de qualquer outra natureza, é uma violação dos  direitos fundamentais das vítimas. Num espaço como a universidade, onde a relação  entre alunos, professores e funcionários deveria ser pautada pelo respeito mútuo, é  desconcertante verificar que muitas das queixas não resultam em consequências  adequadas para os agressores. As sanções, quando existem, são um reflexo da seriedade  com que estas instituições encaram a proteção dos seus membros, mas quando são  escassas ou inexistentes, a mensagem passada é de impunidade e desvalorização das  vítimas.

A diferença entre o número de queixas e as sanções efetivas é um sinal claro de que algo  não está a funcionar como deveria. A cultura do silêncio e do medo que muitas vezes  envolve os casos de assédio nas universidades perpetua um ciclo vicioso, no qual as  vítimas, ao verem a falta de consequências, perdem a confiança nas instituições e,  consequentemente, optam por não denunciar. O resultado é uma sensação de injustiça e  abandono, que apenas fortalece os comportamentos abusivos.

Por outro lado, é preciso considerar que o processo de investigação e aplicação de  sanções nas universidades pode ser extremamente moroso e complexo. Muitas vezes,  faltam recursos e mecanismos eficazes para garantir que as queixas sejam tratadas de  forma célere e justa. No entanto, esta não pode ser uma desculpa para a falta de ação. As  universidades precisam de investir na criação de comissões independentes e  transparentes que assegurem uma investigação imparcial, garantindo que as vítimas não  sejam silenciadas ou ignoradas.

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A questão do assédio nas universidades não é um problema isolado, mas sim um reflexo  de uma sociedade onde, por vezes, os abusos de poder e as violações de direitos são  normalizados ou encobertos. O facto de instituições de ensino superior, que têm um  papel central na formação de cidadãos conscientes e responsáveis, não estarem a lidar  adequadamente com esta questão é um alerta para a necessidade urgente de reformas.

Além das sanções, é crucial que as universidades implementem medidas preventivas  eficazes. Programas de sensibilização sobre assédio, códigos de conduta rigorosos e  acessíveis, e canais seguros e confidenciais para apresentação de queixas são  fundamentais para criar um ambiente mais seguro e inclusivo. A prevenção deve ser  vista como uma prioridade, não apenas para evitar futuros casos de assédio, mas  também para educar as comunidades académicas sobre o respeito e a ética nas relações  interpessoais.

A responsabilidade não recai apenas sobre as universidades. O governo e as autoridades  competentes devem garantir que existem diretrizes claras para lidar com casos de  assédio no ambiente académico e que estas são cumpridas. A fiscalização deve ser  apertada e as instituições que falharem em proteger os seus membros devem ser  responsabilizadas.

O assédio não é um problema menor, e as universidades não podem continuar a fechar  os olhos ou a minimizar as suas consequências. Cada queixa não sancionada é uma  oportunidade perdida para fazer justiça, e cada vítima não ouvida é um reflexo da  fragilidade do sistema. As universidades são espaços de aprendizagem, mas a primeira  lição que devem ensinar é o respeito pelos direitos e pela dignidade de cada indivíduo.

Se queremos que as nossas universidades sejam verdadeiramente exemplares, não  podemos tolerar que o assédio seja varrido para debaixo do tapete. A mudança começa  com uma ação concreta, firme e transparente. As vítimas merecem ser ouvidas, e os  agressores devem ser responsabilizados. Só assim conseguiremos construir um  ambiente académico mais justo e seguro para todos.