Se há uma certeza que fica da governação socialista em matéria de Defesa Nacional, é a do que não deve ser um/a ministro/a dessa tutela. Recuando aos tempos do académico Azeredo Lopes que, no limite, nem terá percebido que a Defesa era uma pasta diferente daquela que carrega para a Universidade Católica, passando por João Cravinho com mais apetência diplomática que militar, o que não lhe permitiu perceber a enorme rede de corrupção instalada nos gabinetes à sua responsabilidade, para acabarmos no erro de casting de Helena Carreiras para quem um par de cuecas camufladas ou um carro de combate Leopard 2 A6 têm o mesmo potencial na frente de batalha da guerra da Ucrânia, foram a “tempestade perfeita” no já depauperado edifício da Defesa. Em resumo, a governação socialista da Defesa Nacional não serve de modelo nem de referência para nada mais que não seja a confirmação do que não deve, e sobretudo não pode, ser o/a próximo/a ministro/a da Defesa Nacional (MDN). O novo Governo da Aliança Democrática (AD), a ser essa a solução que o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas preconizará, deverá ter em mente na escolha do futuro MDN estes maus exemplos socialistas, e fugir da tentação de manter o estado da arte. “É uma insanidade continuar a fazer as mesmas coisas e esperar obter resultados diferentes”, terá dito Albert Einstein, e mesmo não lhe cabendo porventura a autoria, não deixa de ser uma verdade genérica, de aplicação transversal às nossas vidas e a quase todas as nossas atividades, mas que no momento atual que vivemos, na Europa e no Mundo, ganha particular realce na área da Defesa Nacional. A verdadeira mudança que a AD usou como slogan de campanha, na Defesa, exige novos protagonistas, novos comportamentos, novas soluções, diferentes estratégias e mesmo outras atitudes. Estudos sobram na Defesa, ações faltam. Diagnósticos sobram na Defesa, medidas faltam. Capacidades sobram na Defesa, meios faltam. Casos de corrupção sobram na Defesa, ética e liderança faltam. Para se servirem há de sobra na Defesa, para servir faltam!
A escolha do/a novo/a Ministro/a da Defesa de Portugal não pode deixar de levar em linha de conta o contexto geopolítico atual, as necessidades específicas das Forças Armadas (FFAA) e as políticas de defesa do governo que entrará em funções. Desde logo, não deverá ser alguém que precise de dois anos para conhecer os dossiês militares e de dois anos para decidir sobre esses assuntos. Deverá ser alguém, militar ou civil, que já detenha muita experiência prévia em assuntos militares, com experiência em assuntos de segurança e defesa, com uma grande compreensão pragmática dos desafios enfrentados pelas FFAA e das questões de segurança nacional. Esse alguém, que detenha essa garantia, não sendo um militar de reconhecida craveira e de aceitação coletiva na hierarquia, deve deter capacidade de liderança e gestão. Alguém que seja respeitado pela tropa, dado que só o respeito traz ação, angaria empatia que, por sua vez, aproxima a solução. Um bom líder político que seja garantia, à partida, da eficácia e da eficiência das operações militares e da administração do Ministério da Defesa. A experiência em liderança e gestão, tanto no setor público como no privado, poderá ser o ponto de partida para uma escolha sólida. Há militares com experiência no privado e há civis com profundos conhecimentos militares, é só aplicar o filtro e nunca de forma direta. Agostinho Costa é oficial general, mas como MDN até a Ordem de Serviço das Unidades passaria a ser o órgão oficial do Pravda e mais depressa trazia o Kremlin para o 7º piso do que colocaria tropa operacional ao nível dos parâmetros NATO. Nuno Melo é um excelente quadro político da AD, mas aos olhos dos militares não serviria senão como uma tentativa de limpar a “enorme borrada” que Alberto Coelho, outro quadro do CDS, deixou impregnada nos gabinetes desse mesmo 7º piso. A Defesa precisa de um/a ministro/a isento/a de ónus político, longe das lógicas partidárias, desligado/a das visões interesseiras das “assessorias de boys&girls”, capaz de arrumar a casa, de projetar o futuro dos Ramos e junto da tropa ser mais um “boots on the ground”! Claro que dada a natureza global dos desafios de segurança, é importante que possua “expertise” em relações internacionais e diplomacia para colaborar eficazmente com outros países e organizações internacionais em questões de segurança e defesa, que detenha peso político e capacidade de negociação para garantir o apoio necessário para as políticas de defesa e que possua, por si só, uma visão estratégica clara para as FFAA como garante da soberania nacional, identificando ameaças emergentes, desenvolvendo planos para lidar com elas e garantindo que os recursos são alocados de forma eficaz para alcançar os objetivos políticos do País. Não deve ser um mero académico que reúna parte destes requisitos, nem um político que olha para a função como uma forma de satisfazer as clientelas partidárias ou até um militar que não consiga ter a visão de um político. Tem de ser alguém com sentido de missão e não um qualquer com espírito de se servir! Os tempos são de ação e não aconselham na Defesa um ministro da inércia, como os que temos tido. Os tempos são de rigor e não aconselham na Defesa um ministro da corrupção, como o que temos visto. Os tempos são de mudança rápida e não aconselham um ministro da rotina, como tem sido a norma! Os atuais chefes militares dos Ramos, o Almirante Gouveia e Melo, os Generais Mendes Ferrão e Cartaxo Alves, são três excelentes operacionais, conhecedores dos desafios e problemas das FFAA que se forem tutelados por um/a ministro/a da Defesa sério/a, competente e dinâmico/a podem mudar o paradigma instalado e recuperar para o País a segurança que só umas FFAA modernizadas, treinadas e bem equipadas podem garantir.
Em quem deve recair a escolha para o novo/a MDN cabe ao novo primeiro-ministro decidir, sendo que a escolha que fará para essa exigente e fulcral função nos dirá o rumo que as FFAA irão ter nesta primordial função de segurança e soberania de Portugal.