A invenção da escrita e a capacidade ler, escrever e comunicar através de alfabetos foi um dos grandes avanços da humanidade.
Graças a este sistema de comunicação, a humanidade pôde registar os seus conhecimentos, as suas ideias e os seus factos históricos. Os autores puderam escrever as suas obras literárias, em prosa ou poesia, usando uma variedade de géneros literários e de recursos estilísticos.
A palavras dita e escrita tornou-se uma conquista e um sinal de civilização. Uma população alfabetizada era um sinal de progresso e de desenvolvimento dos povos. Contudo, vemos que tudo o que a escrita e a leitura nos deram e podem continuar a dar, parece estar em risco de se perder.
A maioria das pessoas frequentou a escola, conseguiu-se a escolaridade obrigatória até aos 18 anos e a frequência do ensino secundário ou universitário, mas a grande maioria confessa que não lê ou raramente o faz.
Vemos livrarias emblemáticas das principais artérias das cidades a encerrar, como no caso do Porto. A rua de Santa Catarina, nos últimos vinte e cinco anos, viu encerrar três livrarias (Telos, FNAC e agora a Latina), assim como a transferência para o digital do centenário jornal diário O Primeiro de Janeiro, ou a deslocação das sedes do semanário Voz Portucalense e do quinzenário A Ordem para outros pontos da cidade.
Podem ser apontadas muitas razões: as pessoas não leem; preferem o digital em detrimento do papel; o elevado custo dos jornais e livros, e por aí adiante…
Ficamos, então, diante do dilema: as pessoas não leem porque não querem ou querem ler e não podem porque não têm meios para aceder ao mundo da leitura e da imprensa?
Penso que ambas as afirmações terão o seu fundo de verdade, mas, na minha opinião, os elevados custos de um jornal ou de um livro poderão ser a principal causa. A maioria das pessoas, infelizmente, não pode dispor no seu orçamento de uma verba para comprar um jornal todos os dias, ou um livro de ficção, poesia ou de estudo científico.
Sempre me disseram que quem não lê acredita no que ouve. E, hoje em dia, vemos como as nossas crianças e jovens, e até adultos, já usam um léxico de vocabulário muito reduzido. As suas fontes de informação já não são a leitura de jornais e de livros, mas informações veiculadas em redes sociais, sem qualquer fundamento científico e onde teorias da conspiração inundam as mentes e as suas conversas. Acreditam no que um influenciador digital disse, como se fosse ou estivesse ao nível de um grande poeta, filósofo ou cientista.
Uma população letrada, leitora assídua, que desenvolve a sua capacidade de reflexão e de questionamento é muito mais desafiadora e difícil de enganar ou submeter. Pode até haver interesse em manter as pessoas na obscuridade…
Há que promover a leitura, a escrita criativa, a imprensa livre, baseada na verdade factual e científica, usando todas as ferramentas que a escrita nos pode oferecer. Como recordo, com saudade, tantas e tantas pessoas que conheci e sentiam tanta pena por não saber ler e escrever… pessoas a quem lia o jornal ou um livro e que via os seus olhos a imaginar o que escutavam, voando na imensidão do sonho escrito…