Antes de mais o tema que deve ser discutido, na área do centro direita em Portugal, é de que forma os partidos desta área como o CDS e o PSD devem reagir a uma derrota eleitoral sem precedentes que lhes deixa pouco mais de um terço do parlamento.

Nos últimos anos a Esquerda cresceu e ganhou espaço político porque afirmou de forma clara e sem receios, sem medos, aquilo que eram as suas bandeiras e as suas ideias para o país e para a sociedade que pretendem construir.

Ao mesmo tempo, a Direita encolheu-se, foi-se calando, deixou de afirmar as suas bandeiras, foi-se subjugando àquilo que hoje se chama do “politicamente correcto” e perdeu eficácia.

Os militantes, as pessoas, os portugueses votam, tendem a votar, nos partidos com quem se identificam, por convicção, pelas ideias que veem reflectidas no programa desses mesmo partidos.

A Direita, efectivamente, vive hoje uma crise doutrinária, ideológica, de representatividade, que entendo dever-se a este fenómeno de auto-acantonamento, de não responder, de não afirmar claramente as suas ideias e aquilo que mobiliza partidos como o PSD e o CDS a participar na vida política.

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Nesse sentido, o resultado que o CDS obteve nas últimas eleições, sendo o pior resultado de sempre da sua história, a mim não me surpreendeu porque de facto o CDS “descafeinou-se”. O CDS deixou de ter aquelas bandeiras que motivavam, os seus valores, as suas causas, os seus princípios que mobilizavam as pessoas para o salutar combate político.

Com isto, o CDS ficou um partido tímido, pragmático que pensava e fazia contas de aritmética para a eleição de deputados ou para ter um determinado tipo de votação.

O que é preciso para “cafeinar” de novo o CDS são convicção e ideias claras!

O facto de partidos como o Chega e o IL terem hoje representação parlamentar tem a ver essencialmente com esta atitude.

É que o CDS que era um partido claro e esclarecido que defendia o Mundo Rural, que defendia a Família, que defendia posições claras sobre o que é ser de Direita, e, passou a ficar tímido e a ter vergonha de afirmar estas coisas, portanto, abriu espaço e caminho para que outros viessem ocupar esse espaço.

Com isto, reduziu-se a 4,2% e 5 deputados na AR, sendo que as últimas sondagens já lhe dão 2,9%.

É fundamental que a Direita, não só o CDS, mas o espaço da Direita e do Centro-Direita em Portugal reflicta sobre isto. Reflicta se quer fazer o que a Esquerda fez há uns anos, que é pensar e afirmar o que quer para a sociedade e para o país, para depois afirmar de forma clara isso aos portugueses, sem medos e limitações.

Afirmar, sem vergonhas e sem complexos que alguém lhes diga que é fascista ou de extrema-direita ou que está a dizer coisas que incomodam. Em Democracia o que é fundamental é que as pessoas e os Partidos, de forma livre e esclarecida, possam afirmar o que pensam, as suas ideias.

E esse debate plural, salutar, convicto é aquilo que as pessoas precisam para se voltar a interessar pela política.

Nós temos hoje 51% de portugueses que não votam, a somar aos que votam branco e nulo, isto é a prova de que as pessoas estão absolutamente desinteressadas deste discurso monocórdico, quentinho e sem interesse que os portugueses não compreendem e estão fartos de ouvir.

Todos falam da mesma maneira e é preciso que no meu campo político e no Partido a que pertenço, sendo isso que defendo com a minha candidatura à liderança do CDS, se faça esta discussão.

Por outro lado há um candidato que afirma que não quer discutir doutrina ou ideologia, ora nós temos de discutir isso tudo, isso é a raiz do problema, isso é o que é fundamental para dar resposta a perguntas como: Que Partido queremos? Que Direita queremos nós em Portugal? Que modelo de sociedade queremos construir?

Quero um CDS de Direita, sem vergonha e sem complexos de dizer que é de Direita, e, esclarecido, clarinho, para que qualquer cidadão que vai votar CDS saiba o que isso significa, saiba o que o CDS defende.

O CDS não pode à Segunda-feira defender uma coisa, à Quarta e Sexta defender outra e ao fim-de-semana ficar calado. O Partido tem de ser claro naquilo que são as suas ideias e claro para os portugueses sobre o que defende e promove.

Nós hoje temos 20% de Portugueses no límiar da pobreza. Ora, isto é uma bandeira da Direita não é exclusivo da Esquerda, e não vejo a Direita preocupada com isto. Preocupa-me como democrata cristão e humanista que 20% dos meus compatriotas vivam nestas condições.

E não vejo a afirmação clara que esta situação é resultado da governação socialista dos últimos 45 anos e que traz sistematicamente a “troika” para Portugal e que tem o País num estado depauperado mas que aparentemente, decorando com uns “soundbytes”, consegue passar a imagem de que está tudo bem.

O SNS caduco, a Educação cada vez pior, a Economia anquilosada, nós não podemos viver assim!

É importante que a Direita se deixe da trica política e do medo de afirmar coisas que podem parecer mal a um determinado grupo ou lóbi. Temos de nos afirmar!

É preciso falar de forma que as pessoas entendam, porque as pessoas que estão no terreno da realidade, das dificuldades e que vivemos o dia a dia sem estar fechados em São Bento, entendemos e percebemos quais são os nossos problemas diários.

Defendo um CDS que resgate os seus princípios fundacionais e que volte a colocar o humanismo cristão no centro da acção política.

Porque ser de Direita é colocar a Pessoa e o Ser Humano como ponto essencial e fundamental da acção política. É isso que temos de fazer, a Pessoa é a nossa principal preocupação.

Temos de perceber que políticas queremos implementar. A Família é o núcleo fundamental da sociedade, temos de acarinhar e implementar medidas de apoio. Os empresários e a economia privada são o motor e o Estado tem de sair do meio, tem de descomplicar.

A Saúde e a Educação têm que ser subsidiárias, logo não podemos ter uma Saúde e uma Educação exclusivamente públicas. Temos de criar condições para que o privados desenvolvam a sua acção a favor de todos, independentemente de termos seguro ou não, de termos dinheiro ou não.

Não podemos ter tabus em falar de outros temas, que a Direita se tem calado, como as questões da imigração, da segurança, dos polícias, da corrupção ou da ideologia do género. Nós temos de falar das coisas, não podemos ter vergonha de assumir isso, assumindo claramente qual o modelo que queremos, qual a resposta que queremos dar.

É este combate que deve ser feito hoje dentro do CDS e na Direita, sendo que o grande desafio nos próximos anos é o de pensar como a reconfigurar, sendo que isso já não pode ser feito só com os dois partidos tradicionais desta área política.