O Partido do Centro Democrático e Social, vulgo CDS, eclodiu da intensa convulsão social que se viveu em Portugal, nos tempos da ditadura, tendo participado activamente na implementação do regime democrático depois da revolução de Abril de 1974. Foi desde aí um partido político estruturante no sistema político partidário nacional, assumindo, ao longo dos anos, tanto responsabilidades governativas, como responsabilidades inerentes a um partido de oposição.
Reduto do conservadorismo, do humanismo e da democracia cristã, o CDS colheu ao longo dos anos simpatia por parte de uma franja significativa do eleitorado português, que se revia nos seus princípios e valores, ao mesmo tempo que confiava nos quadros que dele faziam parte, por serem considerados baluartes de competência e mérito nas mais diversas áreas.
Mas os tempos lentamente foram mudando.
O partido também foi mudando, sendo que a grande mudança se operou depois da última saída de Paulo Portas como líder centrista, em 2016. Depois disso o partido foi-se circunscrevendo, aos poucos, a um discurso fácil, muitas das vezes com laivos populistas, que procurava desesperadamente a empatia por parte dos eleitores mas pouco mais do que isso.
Aos poucos aquilo que sempre distinguiu o CDS de outros partidos foi-se diluindo e a ideologia, que até então lhe estava associada, começou aos poucos a resvalar para coisa nenhuma. E enquanto o oportunismo e o pragmatismo pareciam ter tomado o partido de assalto, a sua matriz foi-se, aos poucos, desconstruindo e criando um cada vez mais elevado número de cisões e dissidências, ainda que visto de fora o partido pudesse até parecer intacto.
O Iniciativa Liberal e o Chega começavam a dar os seus primeiros passos, no panorama politico partidário português, e o CDS estava já emaranhado num número significativo de lutas internas, mais ou menos civilizadas, que posicionaram o partido numa posição de difícil manejo, num caminho que não parecia ter qualquer retorno.
O partido fagocitava-se silenciosamente.
Foi então que, já em profuso e evidente declínio, mudou de líder.
Essa nova fase foi marcada por uma vivência quase que ininterrupta de vendetas e sangrias internas. O partido foi mirrando ao som dos soundbites do seu então presidente, esvaziando-se de militantes e também de eleitores até vir a desaparecer da Assembleia da República.
O partido deslaçou.
Veio então mais um líder, cuja imagem e ideário faziam lembrar as antigas glórias do passado, não tanto pela sua conhecida e sobeja qualidade enquanto político mas pelo facto de ser alguém que sempre soube fazer-se presente no circulo da dita elite do partido. O partido, definhado à vista de todos, tentava a todo o custo fazer constantes provas de vida mas a verdade é que contava já com uma grande parte das estruturas locais sem qualquer dinâmica e reduzidas ao mínimo exigível para se manterem em funcionamento ou nem mesmo isso.
As circunstâncias políticas vividas em Novembro de 2023 desbravaram caminho para legislativas antecipadas e o CDS, aproveitando a necessidade de um rebranding por parte de um PSD apostado em ganhar as eleições, coligou-se numa tentativa desesperada de sobrevida ao caos em que estava mergulhado.
O partido conseguiu eleger dois deputados e voltar a estar representado no parlamento. Foi assegurado um lugar digno para o seu presidente no governo, assim como para mais um punhado de militantes que se encaixaram, muitos deles a duras penas, em gabinetes ministeriais e outros redutos parlamentares e governamentais que o PSD deixou por ocupar.
O último Congresso do partido ocorreu em Abril do ano em curso, em Viseu. Foi uma reunião medíocre, com poucos participantes, em que o líder andou quase sempre ausente e onde se perdeu a oportunidade para se pensar o partido de outra forma, alavancando-o para o futuro e apostando na sua renovação.
A vaidade de se ter conseguido eleger dois deputados para a Assembleia da República e do partido estar, modestamente, representado no governo criou a cortina de fumo necessária para não se falar de nada de útil para a real sobrevivência do partido. Foi inequívoca a fragilidade inerente ao CDS bem como a sua subalternidade. Ficou então claro que o partido estava verdadeiramente anulado e pobre de futuro. Ficou então claro que passou a ser um partido satélite, sem carácter e com pouca substância.
Poderão vir alguns dizer que a morte do partido é um exagero e que continuará a manter implementação autárquica e por essa via terá a sua sobrevivência garantida, sendo uma mais valia em situações de possível coligação com o PSD nas próximas eleições de órgãos locais.
Mas isso não é verdade!
Nas últimas autárquicas, em 2021, o CDS manteve a presidência em seis Câmaras Municipais, mas na contagem geral perdeu votos. Já em muitas das autarquias para as quais concorreu coligado com o PSD verificou-se uma cedência de lugares nas listas a militantes do PSD ou a independentes indicados pelo PSD. Em vários casos houve total subserviência do CDS ao PSD, isto para manter um ou outro autarca em lugar elegível ou então evitar que o partido pudesse concorrer sozinho perdendo representatividade. Actualmente, existe um número significativo de estruturas locais que estão desfeitas, sem dinâmica agregadora, nem para os que ainda militam quanto mais para novos militantes. Ao partido falta-lhe hoje força motriz para se fazer notar simplesmente porque o partido é hoje uma artificialidade, constituído quase que exclusivamente, por pessoas que não se lembram de existirem profissionalmente senão à sombra do que o partido sempre foi conseguindo proporcionar.
A recente retórica embaraçosa do presidente do partido sobre Olivença e tudo o que a isso se lhe seguiu veio confirmar que o CDS já não tem mais caminho para fazer. Vive do passado e não tem uma única linha orientadora de futuro que entusiasme os portugueses, nem tão pouco os militantes que com isso se preocupam e não vivem do que o partido lhes pode proporcionar.
Morreu.
Paz à sua alma!