O ministro da Saúde anunciou que mais cerca de 250 mil utentes passarão a ter médico de família. Alegadamente haverá uma solução para isso: a passagem de unidades de saúde familiar do modelo A para o modelo B. Com isto, diz-se por aí, sem nenhuma confirmação formal, os médicos iriam beneficiar de um aumento substantivo. Um rebuçado!
Para além de valer a pena recordar que o número de utentes sem médico de família é de 1 milhão e 700 mil, assinale-se que não se conhecem todos os termos desta medida, sendo verdade que é absolutamente necessária para começarmos a resolver alguns problemas.
Mas vamos ao que importa então esclarecer com carater de urgência e ver depois se o rebuçado é um exemplar que alimenta e tem efeitos terapêuticos ou é só para adoçar a boca.
Percebe-se a necessidade, e até alguma precipitação, no anúncio da medida. Mas falta a contextualização. Tendo em conta a realidade atual dos Cuidados de Saúde Primários, se nada for feito pela MGF e o seu modelo teremos mais do mesmo.
Isto porque é essencial saber se o atual modelo B é atrativo para todos os médicos de família. Será? Então por que motivo há cada vez mais unidades de saúde familiar e simultaneamente mais médicos de família a sair do SNS?
Existem também problemas nas USF modelo B: listas com excesso de utentes, excessiva burocracia, contratualização cada vez mais complexa e sem flexibilidade, existindo risco de sobrecarga e de burnout para os profissionais.
Por outro lado, os políticos, quando pensam em soluções milagrosas e imediatas, esquecem-se por exemplo de avaliar as situações consoante as regiões. Não há modelos ideais que sirvam todas as regiões. Assim, uma medida deste tipo pode tornar-se apenas paliativa e não curativa para os Cuidados de Saúde Primários.
Na verdade, o que a política tem de saber dizer aos médicos é aquilo que eles esperam. Todos esperamos uma nova carreira, todos queremos um novo futuro e todos aguardamos pela verdadeira mudança – um Sistema Nacional de Saúde, onde todos os médicos, outros profissionais de saúde e todos os portugueses vejam os seus problemas resolvidos.
Os médicos não querem rebuçados, querem que o modelo seja alimentado devidamente, com soluções de carreira, com capacidade de resposta, com vias de acesso diferenciadas, com equipamentos, com articulação entre os níveis de cuidados, com condições em instalações, com a possibilidade de praticarem a Medicina que aprenderam nas faculdades e que desenvolveram nos seus internatos, num quadro de pagamentos à altura do trabalho que desenvolvem.
Conhecem porventura algum rebuçado que satisfaça plenamente alguém? Claro que não conhecem. Portanto, deixemos o pacote dos rebuçados e passemos a falar para os médicos e para os portugueses de forma clara.