São Jorge matou o dragão. Durante uns tempos foi um herói: era cumprimentado na rua e solicitado para selfies. Mas a fama foi esmorecendo e São Jorge viu-se na obrigação de realizar mais atos heroicos. Matou mais alguns animais de grande porte. Quando estes desapareceram, começou a matar animais cada vez mais pequenos, até que se viu sem mais nada para matar… Acabou os seus dias a deambular pelas ruas com a espada a cortar o ar.
Isto é mais ou menos o que se passa com os antifascistas. Tiveram o seu momento de glória em 1975 e estão há cinco décadas à procura de novos fascistas. Como não os encontram facilmente, inventam-nos.
Em 2001 escrevi um brevíssimo texto que foi publicado no Público, em que comentei um “manifesto antifascista” emanado de apoiantes da candidatura de João Soares à Câmara Municipal de Lisboa, contra Santana Lopes. Se este ganhasse – diziam eles – viriam à tona os fascistas. Para sua imensa tristeza, os fascistas não vieram, apesar de Santana ter ganho. Eu teria votado em João Soares, não fora o absurdo manifesto.
Os antifascistas precisam de fascistas, assim como os observatórios antirracistas dependem de racistas – caso contrário, ficam sem objeto (e sem emprego).
Outro aspeto que não é de somenos é o do significado da palavra “fascista”. Do ponto de vista popular, é um insulto: designa um saudosista do antigo regime, um inimigo da liberdade e da democracia. Ser “antifascista” é um rótulo de qualidade.
Convém, no entanto, esclarecer o que foi o fascismo, não na linguagem de café, mas no seu verdadeiro sentido técnico: o fascismo foi a versão italiana do socialismo.
Madeleine Albright, secretária de estado da administração Clinton, publicou, em 2018, o livro Fascismo: Um Alerta. O “fascismo” de Albright não era exatamente o fascismo dos nossos antifascistas: ela confessava-se uma fugitiva de dois fascismos, um de direita e outro de esquerda. Albright tinha dois anos em 1939 quando os passos de ganso nazis obrigaram a sua família a fugir da Checoslováquia para o exílio em Londres. No final da guerra, voltaram para a Checoslováquia, até que, em 1948, os passos das botas comunistas os obrigaram a um novo exílio, desta vez definitivo, nos Estados Unidos.
Comunismo, nacional-socialismo e fascismo têm todos a mesma génese. Desenvolveram variantes e odiaram-se, mas a raiz é a mesma.
Os antifascistas tristes das cerimónias da Assembleia da República definem-se pela negativa: sabemos o que não são, falta sabermos o que são… Se são amigos da liberdade e da democracia ou não.