Porque nos sentimos tão sós quando estamos mais conectados do que nunca? Dentro do espaço psicoterapêutico percebo que este sentimento vem muitas vezes de questões internas e de dificuldades nos relacionamentos. Ouço frequentemente “a solidão atormenta-me”. Ou “o meu maior medo é estar só e permanecer só, mas faço de tudo para assim permanecer”.

Naquilo que vou observando em terapia de casal, a solidão parece ser uma das angústias mais presentes, que implica um conjunto de crenças enraizadas que mexem com as nossas emoções e a nossa saúde mental. As pessoas em consulta referem sentir-se sozinhas e com dificuldade de conexões reais e autênticas.

Os conflitos conjugais centram-se maioritariamente no sentimento de insegurança, causado por uma comunicação pouco assertiva e transparente. Apresentam dificuldade em expressar as emoções, necessidades e expectativas de forma clara e aberta, o que leva recorrentemente a mal-entendidos, ressentimentos e conflitos. Por outro lado, sinto que muitos casais não se conhecem verdadeiramente um ao outro.

A falta de diálogo leva a suposições e a criar cenários que muitas vezes não existem. A ideia de que temos que estar sempre disponíveis é uma realidade partilhada recorrentemente em contexto clínico, facilitada pelo uso frequente da troca de mensagens pelo meio digital.

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“Sinto que o meu parceiro/a não me compreende.”
“Não me apoia.”
“Não está disponível para mim.”
“Sinto-me só.”
Ouço atentamente algumas destas palavras e quando questiono se ambos já retiraram um tempo para dizer ao outro o que sentem, a resposta costuma ser o silêncio.

Além disso, observo cada vez mais casais a sentirem-se insatisfeitos. Tornou-se fácil a comparação com aquilo que é exposto publicamente, muitas vezes apresentado de forma idealizada e irrealista.

O “querer tudo para já” parece ser outro dos problemas. Se a construção de laços profundos exige tempo e esforço, os relacionamentos parecem estar mais frágeis. Muitas pessoas desistem ao enfrentar dificuldades em vez de trabalhar para melhorar a relação e a confiança entre ambos.

A saúde mental do casal depende, muitas vezes, da forma como conseguem equilibrar a vida online e offline e da comunicação entre ambos, mantendo o foco na verdadeira conexão. Não esquecendo as redes sociais reais, que são sem dúvida as mais importantes. Afinal, o nosso bem-estar também depende de relações saudáveis e seguras. Sem elas, a saúde mental poderá ficar comprometida.

Andreia Vieira é mestre em Psicologia Clínica e Psicoterapia Psicodinâmica. Tem prática hospitalar e em clínica privada.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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