Na última segunda-feira foram conhecidos os resultados dos exames finais do Secundário, pelo que muitos jovens planeiam, durante esta semana, as suas candidaturas a cursos nas universidades e politécnicos. O número de alunos matriculados pela primeira vez no Ensino Superior tem vindo a aumentar desde 2014, quando correspondia a 103.638, até 2020, em que totalizou 133.322 (dados DGEEC/ME-MCTES). Apesar disso, verifica-se que nesse período a percentagem de alunos de Ensino Superior no total da população residente em Portugal diminuiu ligeiramente (de 20,5% em 2013 para 19,4% em 2020), revelando que a continuação de estudos não é uma tendência consolidada no nosso país.

Por isso, é crucial continuar a aumentar o número de vagas nos cursos e a incentivar tanto o acesso de jovens provenientes das várias vias de Ensino Secundário, como a participação de adultos em diferentes idades. Mas, para alcançar as metas europeias de percentagem de estudantes no Superior, não é suficiente aumentar o número de vagas e criar incentivos no acesso ao Ensino Superior.

Nas universidades e politécnicos, a população estudantil cresce tornando-se, ao mesmo tempo, cada vez mais diversa. A diversidade de origens socioeconómicas, idades, contextos culturais, experiências e saberes prévios, associa-se a uma pluralidade de motivações e expectativas relativamente à frequência académica.

Ora, a presença de estudantes cada vez mais heterogéneos reforça a importância de experimentar e/ou consolidar novas estratégias institucionais, curriculares e pedagógicas que permitam favorecer a inclusão de todos, através da existência de comunidades de aprendizagem que beneficiam o envolvimento e melhoram os resultados educativos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A rápida adaptação do regime presencial a modelos de “ensino remoto de emergência” no início da crise pandémica permitiu manter a generalidade dos alunos envolvidos nos seus percursos académicos, mas vários estudos indiciam que as intenções de abandono dos estudantes têm vindo a aumentar e os seus níveis de saúde e bem-estar a decrescer. Face à diversidade crescente dos estudantes e às implicações negativas que a pandemia tem significado para uma grande parte destes, é agora ainda mais premente inovar nos processos de ensino-aprendizagem beneficiando da experiência vivida no último ano e meio. Para isso, são necessários equipamentos tecnológicos e instalações físicas adequadas mas, sobretudo, é imprescindível criar condições de trabalho dignas para todos os professores de Ensino Superior. São estes quem, através do seu trabalho individual e coletivo, concretizam a inovação e a inclusão.

A dignidade das condições de trabalho abrange a estabilidade contratual num setor em que quase metade dos docentes são precários, em prejuízo quer das suas vidas individuais, quer do trabalho coletivo que se realiza nas instituições.

É também fundamental reconhecer o trabalho desenvolvido pelos professores, criando mecanismos de avaliação de desempenho que, efetivamente, resultem na progressão daqueles que contribuem para a melhoria do ensino-aprendizagem. Importa, ainda, aumentar o número de docentes que pouco se alterou (33.528 em 2013 e 35.283 em 2020), num contexto de crescentes exigências decorrentes do aumento do número e da diversidade dos estudantes.

A concretização deste conjunto de orientações estratégicas criará condições adequadas para o trabalho docente e para o acolhimento, de forma ainda mais inovadora e inclusiva, de grupos de estudantes cada vez maiores e mais diversos. Da qualidade desse acolhimento dependem os inegáveis benefícios individuais e coletivos da formação académica para o desenvolvimento económico, social, cultural e humano do nosso país.

Que sejam todos os estudantes muito bem-vindos ao Ensino Superior!