Acordámos para mais um dia, seco, de Setembro com notícias alarmantes: Espanha já travou a transferência de água do rio Douro para Portugal. Os nuestros hermanos, conscientemente, tomaram uma decisão que põe em causa o cumprimento integral da Convenção de Albufeira.
Alegadamente, a decisão foi motivada pela revolta da população local, com protestos de milhares de pessoas que ameaçavam fechar comportas, reafirmando direitos que, na realidade, não possuem.
Como jovens, apesar de nos gostarmos de pavonear com t-shirts engraçadas ao estilo “Save Water, Drink Beer”, na verdade reconhecemos a importância da água como agente fixador de populações, sustento da atividade económica e respaldo dos nossos ecossistemas.
Esta água, aquela que, em Portugal, fixa populações, sustenta a atividade económica e respalda os nossos ecossistemas, provém, maioritariamente de bacias hidrográficas partilhadas com Espanha. Na verdade, 60% das nossas águas superficiais são provenientes dos nossos vizinhos.
A Convenção de Albufeira – aquela cujo cumprimento Espanha está, neste momento e conscientemente, a colocar em risco – inclui os rios Tejo, Douro, Minho, Lima e Guadiana. Destarte, facilmente concluímos que este não é um tema de somenos importância.
Facilmente? Facilmente, não. Pelo menos avaliando por aquela que tem sido a postura do Executivo Português, liderado pelo Partido Socialista em 20 dos últimos 25 anos, face ao assunto.
Confrontados sucessivamente com apelos das várias forças políticas para que, por uma vez, olhassem os problemas para lá do ciclo eleitoral, para lá do jornal das 20h, e que confrontassem o governo central espanhol com as evidentes lacunas da Convenção de Albufeira, nomeadamente ao nível das garantias de um caudal anual obrigatório uniformemente libertado ou do controlo e monitorização da qualidade da água que é passada a Portugal, a resposta do executivo socialista foi clara: “não nos preocupamos com o vosso Futuro!”.
Infelizmente, para os jovens, este não é um assunto que se possa varrer para debaixo do tapete, pois à medida que as alterações climáticas se impõem e resultam num aumento da evapotranspiração e consequente diminuição da água disponível, menor será a recetividade espanhola para a renegociação, necessária, da Convenção de Albufeira.
Urge rever este acordo no sentido da promoção de caudais contínuos e regulares e planear e executar para controlo dos mesmos, do lado português, um conjunto de açudes, represas e barragens que possam garantir a correta gestão dos fluxos de água disponibilizados por Espanha e salvaguardem as necessidades dos ecossistemas aquáticos, ribeirinhos e agrícolas deles dependentes.
Uma terra sem água pode, por definição, ser classificada como um deserto, porém, devido à distância a que esta realidade – a do deserto – se apresenta de nós, podemo-nos esquecer que um deserto é, concomitantemente, deserto de biodiversidade, deserto de economia, deserto de sonhos… deserto de vida!