Quem procura migrar para a Europa não o faz por espontânea vontade de deixar a terra onde nasceu, a família e amigos que estima ou com o desejo de abandonar a sua zona de conforto.

Como tão bem lembra Carmo Belford (Novo Pacto Europeu para a Migração e Asilo, Brotéria, Outubro de 2020), os números dos telejornais representam vidas de pessoas, que, sem oportunidades, deixam tudo para trás e investem as suas poupanças num ativo apenas – a esperança.

A discussão que rodeia este tema na Europa e, em particular, Portugal, assusta este jovem que se julgava numa sociedade de índole judaico-cristã e que, por direta consequência, foi pioneira em todos os avanços civilizacionais respeitantes aos Direitos Humanos.

Neste momento, a União Europeia, quando não lhe falta a caridade e compaixão internas e deixa os seus Estados-fronteira abandonados no enorme esforço que é acolher todos os migrantes, “chuta o problema”, subornando (a palavra é esta) outros países para fazerem o seu trabalho sujo.

Exemplo disso mesmo, são os acordos firmados com a Turquia ou a Líbia, sendo que nenhum deles satisfaz os critérios mínimos, segundo a Lei Internacional ou até mesmo as mais básicas normas de bom-senso, para ser considerado um país de asilo seguro.

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Tendo as chegadas de migrantes à Europa decrescido na ordem dos 90% desde o seu pico, em 2015, e observando outros países, muitos deles subdesenvolvidos, com um esforço no acolhimento de refugiados, relativo e absoluto, muito superior, não podemos deixar de ver a razão nas palavras do Papa Francisco: “O contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença.”

A cultura da indiferença, paradoxalmente concomitante à cultura do ativismo/woke culture, é a norma atual.

Na minha ótica – humanista, católica e de centro-direita – a questão da migração, não sendo a solução para os desafios de raiz que muitas regiões enfrentam pelo mundo, devia, ainda assim, ser encarada na perspetiva do acolhimento.

A mim convencer-me-ia apenas uma postura deontológica, mas, porque mais em voga nos dias que correm, apresentarei uma argumentação utilitarista para defender o óbvio – devemos ser solidários para com estes seres humanos.

A Europa é o “Velho Continente”, estando na iminência de ver o seu Estado Social a ruir e de se tornar insignificante no panorama mundial. Não ver a imigração como um acordo win-win de complementaridade às políticas, que se precisam assertivas, de natalidade, é falhar em ver uma peça fulcral do tabuleiro geo-político e social.

Sendo verdade que a emigração não resolve qualquer problema no país de origem, que fique registado que resolve muitos problemas no país de chegada!

O acolhimento destas pessoas deve ser desenhado com vista a uma plena integração, evitando fenómenos de guetização, promovendo aulas de cidadania (que pouco têm a ver com a disciplina atual…) e levando a um desenvolvimento pleno dos novos cidadãos portugueses completamente enturmados e coniventes com os valores da sociedade para a qual eles próprios se decidiram mudar.

O meu otimismo é da mesma magnitude que o problema e julgo que será possível estes futuros cidadãos de pleno direito da União Europeia serem, eles próprios, com as ferramentas que uma vida no bloco mais desenvolvido do mundo lhes proporcionou, os dinamizadores de projetos-bandeira nos países de origem.

É simples natureza humana não nos esquecermos das nossas raízes e acredito que, por gratidão e de livre vontade, estes cidadãos acolhidos possam até ser um vetor importante na promoção de organizações e projetos fortes na sua terra natal, principalmente, se houver apoio institucional do lado de cá.

Se repudiarmos os migrantes, repudiamos inevitavelmente a nossa própria matriz humanista.

Se os acolhermos, estes rapidamente chegarão à conclusão de que as políticas que criaram a prosperidade para a qual querem, mais do que tudo, migrar, pouco têm a ver com as políticas que os seus atuais paladinos – a esquerda populista – defendem e, no caso de Portugal, promovem ativamente.

O acolhimento ordenado dos migrantes devia ser bandeira política transversal e não monopólio da esquerda populista.

Os defensores, hoje em dia, da não discriminação por sexo, religião, etnia ou país de proveniência são aqueles de centro-direita, dado que a esquerda, até a anteriormente moderada, se vê invadida pelas políticas identitárias, tão corrosivas da sociedade em que vivemos.

Sigamos o exemplo da social-democracia alemã, aliás, reflexo do estadismo e visão da sua chanceler.

Caminhemos para um mundo melhor, mais aberto, fundado nos princípios e valores que comprovadamente funcionam – como se observa pelo facto de a Europa ser um dos destinos de eleição de qualquer refugiado.

Acarinhemos um acolhimento, de humano para humano, sabendo que, apesar de não sermos responsáveis pelos problemas que assolam estes países terceiros, não devemos, ainda assim, escusarmo-nos a contribuir para a sua solução.

Humanos de cá, ou humanos de lá… humanos todavia!