Não é novidade que, nos últimos tempos, temos vivido situações conturbadas no setor da educação em Portugal. Além das greves e manifestações a que temos assistido nas últimas semanas, há outros assuntos que remontam a tempos mais antigos e que, até agora, não eram tão percetíveis ao olhar público: falamos, por exemplo, da não contabilização integral do tempo de serviço, a quotização da progressão na carreira, a falta de condições nas escolas, as deslocações e as dificuldades de vinculação, a remuneração não condizente com o trabalho desenvolvido e a responsabilidade assumida, o envelhecimento da classe sem qualquer renovação ou a falta de professores.
Ora, nenhum destes problemas é de resolução fácil nem imediata, nem os professores esperam que assim seja. Porém, sem investimento, ou apenas com um investimento mínimo que não é proporcional à importância que a educação assume, ou deveria assumir, não é possível ultrapassar qualquer barreira. Mas investimento apenas é insuficiente: é preciso também promover o valor social que os professores merecem, na medida em que a educação é um dos pilares fundamentais da democracia. E esta valorização, que permitiria, pelo menos, mitigar a problemática de falta de professores, não se consegue através de insultos gratuitos à classe docente nem pela tentativa de impedir a concretização de um direito constitucional.
As greves foram criadas com o intuito de criar distúrbios no normal decurso das coisas. E as greves de professores, infelizmente, pela sua natureza, têm já um impacto reduzido, uma vez que, se as escolas não fecharem, os alunos têm ainda um espaço seguro onde estar durante o dia. Os alunos, em dias de greves, apenas não têm aulas, acontecimento que, se for ocasional e não recorrente, é motivo de gáudio por parte dos estudantes; o que é motivo de tristeza é termos muitos alunos sem professores e que sabem que, à partida, esse problema não se resolverá tão cedo.
Portanto, a narrativa que se apresenta é tão importante como o investimento que é feito. A desvalorização pública que, sucessivamente, os principais responsáveis por esta área têm feito à classe docente seria, por si mesma, um motivo de luta, independentemente da forma que tome, desde que dentro dos limites da lei. Se a isso, então, juntarmos a falta de investimento naquele que é, provavelmente, o primeiro pilar da sociedade, uma vez que é ele que sustenta todos os outros, torna-se necessário criar uma união sem precedentes que seja global e abrangente de toda a comunidade como forma de proteger aqueles que nos ensinaram os primeiros passos. Porque se queremos educação e liberdade amanhã, é preciso começar hoje a preparar o futuro, porque quem não valoriza nem investe seriamente no seu sistema educativo não quer cidadãos, quer súbditos que obedeçam melhor.