O ano 2018 para a Grécia assimila-se inexoravelmente à saída dos programas condicionados de ajuda multilateral. Dizia-se que a Grécia «teria ultrapassado a crise graças aos programas de contenção orçamental da troika». Um pouco como o poder de compra ou os números do desemprego, a situação macroeconómica pode parecer lisonjeira para a troika e para o governo grego, mas a situação social, em paralelo, deteriorou-se profundamente. A troika, por seu lado, parecia pretender que as políticas de rigor iriam, por efeito trickle-down, «melhorar a situação social». A situação atual parece, no mínimo, embaraçosa.

A Grécia sob a troika apresenta alguns bons resultados macro económicos. De 2010 a 2014, as recessões dão lugar finalmente a um crescimento positivo e os números macroeconómicos são bastante encorajadores : melhoria dos défices e até mesmo um excedente em 2018, redução muito sensível do risco-país, com níveis finalmente razoáveis da taxa de juro para os mercados financeiros (à volta de 5% em 2018), balança de pagamentos, emprego1. Por fim desde 2018, ou seja após a troika, data da libertação do controlo desta última, parece que a Grécia conseguiu finalmente vislumbrar o céu azul com um crescimento elevado2.

Contudo, apesar desta poesia de macroeconomia, a situação da Grécia, na realidade, nunca melhorou verdadeiramente. Nem na frente microeconómica, e muito menos na frente social. No plano microeconómico, mesmo durante a troika, a situação não era muito boa: no mercado de trabalho, a parte sempre bastante elevada do desemprego de longa duração no desemprego total, 72,2%, assim como o desemprego dos jovens, sempre bastante acima dos níveis europeus, revelam uma situação de maior contraste. Aqui, a precariedade no que toca ao emprego é geral. Não podemos esquecer que a maioria dos empregos são propostos a tempo parcial ou contratos de trabalho a termo certo. No final, os problemas estruturais perduraram apesar dos programas: fraca produtividade, salários baixos por trabalhador, fracas margens de lucro das empresas. E, sobretudo, a dívida não foi reembolsada com níveis que atingiam sempre os 190% do PIB em 2014.

Atrás da Croácia

Finalmente, após 2018, ou seja após a troika, o PIB permaneceu muito abaixo do seu mais alto nível, -24% em relação a 2008 e uma riqueza per capita bastante abaixo da média dos países europeus, uma posição que a coloca atrás da Croácia. Mesmo se a Grécia contrai empréstimos como todos os outros países nos mercados financeiros, o investimento não atingiu metade do seu nível pré-crise. Quanto aos atrasos de pagamento, estes estão presentes absolutamente por toda a parte. A taxa de pobreza estimada em 22% duplicou em 10 anos e permanece 3 vezes mais elevada do que a média europeia. O país é o mais desigual da Europa.

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Uma situação social à beira da implosão. E, como se isso não bastasse, o aspeto social degenerou completamente. O fim da troika, que devia ter lançado a economia grega, precipitou-a pelo contrário num círculo vicioso social. Poderíamos apoiar-nos no facto de que «existam menos movimentos sociais, menos greves, menos violência», se tal é o objetivo de um programa tão ambicioso, no entanto a realidade é que a situação social revela-se catastrófica. Com efeito, a delinquência literalmente explodiu, a cultura e a educação estão em mau estado, e isto, num quadro de abandono total do património não obstante excepcional. A inflação desgastou o poder de compra mais do que em qualquer outro lugar. Os índices de desenvolvimento humano revelam uma sociedade em total desespero, não sabendo mais para onde ir, nem o que fazer dos seus dias. A única saída ? A emigração para os cidadãos, a evasão fiscal para as empresas. Cultura à deriva, uma enorme quantidade de artistas de rua, teatros em ruínas, cinemas vazios. Os Gregos, imensos criadores reconhecidos no mundo inteiro, na moda também, foram literalmente abandonados à sua sorte.

Presentes no Qatar, em França ou em outros países da União Europeia, não menos de 500.000 gregos deixaram o país aquando desta famosa «libertação»! As pessoas idosas permaneceram enquanto os jovens (20-30 anos), nomeadamente os mais qualificados entre eles, deixaram o país. Um êxodo impactando, de facto, não somente a capacidade de recuperação do país mas intensificando por outro lado as dificuldades já presentes relativas aos sistemas sociais.

12 anos após a crise, poderemos afirmar que a Grécia ultrapassou a crise?

A evidência é que estes fracos resultados macroeconómicos, obtidos «graças» às políticas de rigor, ocorreram à custa de um sacrifício social e cultural. Qual a situação atual? Na sequência do recente conflito russo-ucraniano, os preços do gás, da energia, são os que mais aumentaram na Europa. O Estado, de resto, teve de intervir novamente anunciando um aumento de 50 euros do salário mínimo desde o 1°de maio deste ano. Ainda bem que a escassez agrícola na Grécia, país agrícola por excelência, não existe mas este facto por si só não chega. Será que o Estado deverá enfrentar um regresso das tensões sociais? Ou talvez encontrar algum consolo pelo facto de a Grécia estar situada na rota da seda dos Chineses!

1 A taxa de desemprego da Grécia estabelece-se segundo as estimativas da CE em 15,1% em 2018, o que no seu conjunto é interpretado como um progresso pelos investidores internacionais.

2 Retirando o efeito covid pelo qual todos os países da Europa foram afetados.