Sismo é um desastre natural com origem em fenómenos geológicos, resultantes da libertação de energia no interior da terra, que se propaga em todas as direções sobre a forma de ondas. A consequência deste tipo de desastres depende da sua magnitude, duração, distância do epicentro, dia, hora e local afetado. As questões ligadas a este tipo de fenómenos naturais têm sempre uma dimensão política, social e humana muito forte. As políticas de prevenção são normalmente demasiado reativas, de curto prazo, marcadas pela inconstância e intermitência… E muito pelo momento!

A complexidade dos sismos continua a ser encarada em Portugal como um problema e não como uma oportunidade, porque obriga a uma visão de longo prazo, que normalmente não acontece, porque não há quem “tenha tempo para isso”. Resultado, parece que se avança, para tudo ficar quase na mesma.

De relevar que um sismo não causa danos nem vítimas. O problema não são os sismos, o problema são as pessoas. As consequências de um sismo estão diretamente relacionadas com o que colocamos em cima de um território, como o colocamos e como fazemos a sua gestão (do território e das estruturas). Mas também, muito importante e decisivo, verifica-se que a população, de uma forma geral, não considera crucial prevenir-se contra os desastres naturais, cada vez mais intensos tendo em conta as alterações climáticas. Isto, pois não está nos seus hábitos, porque não passam de acontecimentos improváveis, que só acontecem aos outros e, contra os quais, é obrigação exclusiva do Estado tomar as devidas providências.

O discurso político traz sempre a ideia de que todos os países e todos os serviços públicos estão preparados para responder a um sismo. Até o sismo acontecer.

Estamos sempre muito bem preparados para aquilo que aconteceu, mas nunca para o que vai acontecer, pois não conseguimos prever o futuro. Será que temos a perceção do que acontece depois de um sismo?

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Eis o que nos vem à mente quando às vezes pensamos num sismo de grande magnitude:

Telefono a pedir ajuda. Telefono para saber dos meus familiares. Meto-me num transporte público. As forças de socorro, de segurança, os médicos e enfermeiros, os militares, respondem eficazmente. Os mais importantes decisores técnicos e políticos estão imediatamente disponíveis. Os jornalistas nos locais de maior impacto relatam imediatamente a situação, e dão informações importantes à população.

A questão é que a verdade é outra no caso de um sismo de grande magnitude. As necessidades são muito maiores que os recursos imediatamente disponíveis. As situações de perigo são muito mais que o tempo proporcionado para as resolver. Os operacionais, os técnicos, os responsáveis políticos, os jornalistas, podem também ser vítimas. As instalações das forças de socorro, de segurança, de emergência médica, de apoio sanitário, entre outras, também são afetadas, e muitas colapsam parcial ou totalmente.

Assim, teremos alguém imediatamente disponível e habilitado para tomar decisões? É que podemos ter graves problemas danos complexos em edifícios habitacionais, hotéis, hospitais, metro, viadutos, pontes, túneis, principais vias. Mas também nos centros históricos de cidades, centros de decisão e de coordenação, quartéis de bombeiros, da PSP, GNR ou CVP, instalações do INEM, edifícios dos Serviços Municipais de Proteção Civil, edifícios do governo, edifícios das autarquias locais, Embaixadas, redes de telecomunicações, redes de comunicações de emergência, sedes dos OCS, rede pré-hospitalar, redes de transportes públicos, sistemas de abastecimento de água, sistemas de abastecimento de energia, sistemas de abastecimento de combustíveis, pipelines e tubagens de gás natural e aeroportos.

Podemos também ter vários incêndios de dimensão considerável, com viaturas de segurança, socorro e emergência a ficar debaixo dos escombros, enquanto outras viaturas operacionais não conseguem circular em ruas cheias de escombros. Por outro lado, teremos os meios de socorro para reforço longe e com dificuldades de penetração nas zonas afetadas. Também é muito provável não termos informação dos meios de comunicação social, a não ser através da rádio.

Também teremos de contar com aquilo que é o normal comportamento dos decisores políticos, dos técnicos, dos operacionais, que vão querer saber, primeiro, dos seus familiares. Teremos também de contar com a possibilidade de muito não conseguirem chegar aos locais que necessitam da sua presença.

Afinal, todos somos “apanhados” por um sismo. A nossa organização foi “apanhada” por um Sismo. Devíamos ter tido atenção às campanhas de informação e aprendido as regras de autoproteção. Afinal, era imperativo saber o que fazer, antes, durante e logo a seguir a um sismo. E sermos mais persistentes com os poderes públicos.

Está demonstrado que, nas horas seguintes a um sismo de grande magnitude, as pessoas só podem contar com os seus próprios meios e recursos. A população pode ficar temporariamente sozinha, durante 24, 48 ou mesmo 72 horas, e tem de estar preparada para esta situação.

A vulnerabilidade da população portuguesa perante desastres naturais está na incapacidade que todos temos de fornecer conhecimento, preparação e treino aos cidadãos quanto ao que fazer numa emergência, permitindo, assim, que se amplie a sua vulnerabilidade e, consequentemente, o impacto do acontecimento. É óbvio que não é possível prever todos os fenómenos, nem as suas consequências. Mas temos de nos adaptar às ameaças, aos novos desafios e realidades, para além de introduzir um novo elemento à nossa equação do risco… OS CIDADÃOS.

Podemos ter o melhor sistema do mundo, mas pode não ser suficiente quando acontece um sismo. É preciso atuar de outra forma na preparação da população, e esta tem de alterar os seus comportamentos e atitudes perante os desastres naturais

Para isso, é necessário aumentar a informação aos cidadãos, antes, durante e depois do acontecimento, melhorar a eficácia na gestão dos riscos e obrigar ao reforço sísmico na reabilitação urbana. Programas integrados de reabilitação urbana podem ser um agregador de vontades, um regulador da implementação de medidas antissísmicas, ao racionalizar recursos e evitar intervenções difusas.

Alguém dizia que, se não pudermos fazer do modo que deve ser feito, devemos fazer do modo que possa ser feito.