A Arte da Guerra, de Sun Tzu, é um pequeno livro escrito provavelmente há cerca de 2500 anos, tão rico em ideias e ensinamentos que não deixa de continuar a surpreender-nos. O livro é constituído por um conjunto de versos dividido em treze capítulos, sendo o último dedicado exclusivamente aos espiões. Porém, não é isso que queremos discutir no contexto da quinta-coluna. Nota: o termo quinta-coluna tem origem na guerra civil espanhola e refere-se a forças secretas preparadas para entrar em ação. Sem informações, não há quinta-coluna e para Sun Tzu, as informações são a pedra angular de toda a sua estratégia, algo que tem escapado à maioria dos estudos sobre o mestre.

Sun Tzu não deixa de repetir ao longo do seu livro a importância de conhecermos as nossas capacidades e competências, de conhecer as do inimigo, bem como todas as condições subjacentes ao conflito. Aliás, nos primeiros versos do seu livro, Sun Tzu revela que o caminho para sua estratégia assenta exclusivamente na abundância de informações, pois uma estratégia com pontos cegos é sempre perdedora. A quinta-coluna é, portanto, uma das premissas do Sun Tzu e é também o tema do 13º e último capítulo do livro. Para compreender a estratégia do mestre chinês, precisamos de ter sempre presente o contexto criado no início do seu livro durante a leitura do resto dos capítulos.

São cinco as dimensões referidas explicitamente por Sun Tzu relativamente às necessidades de informações. Como era de esperar, estas necessidades têm origens interna e externa. O início da sua aquisição começa com o estudo dos tipos de terreno do espaço conflito. Sun Tzu define nove tipos terreno para ajudar à escolha tática das forças e competências a aplicar para construir a estratégia. Com efeito, o terreno de combate prescreve sempre o tipo de competências necessárias e faz sentido perceber que terrenos evitar e em que terrenos investir para aumentar a probabilidade de sucesso sobre os nossos adversários.

A análise interna começa com as capacidades de liderança, e Sun Tzu descreve, ao longo de todo o livro, as dez virtudes do líder de sucesso. Depois continua com o que chama de doutrina e recursos. É o momento de compreender as verdadeiras capacidades e competências à nossa disposição antes sequer de pensar em estratégia. Mais do que isso, Sun Tzu refere um factor interno adicional e que é a influência moral, pois uma coisa é dispor de competências e outra totalmente diferente e ter capacidade de as mobilizar.

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O úlltimo factor referido explicitamente por Sun Tzu é o clima, ou seja, as condições subjacentes ao entrar em combate e que não dependem de nós nem dos nossos adversários, as quais também têm de ser conhecidas.

Estranhamente, apesar de Sun Tzu referir a importância de ter informações sobre os adversários ao longo do livro, não o refere diretamente no conjunto dos cinco fatores acima. No entanto, no final do primeiro capítulo, aparece a referência aos adversários com a importância que merece, o que isto significa que há um sexto factor a considerar como parte da análise inicial.

Os militares chamam esta pedra angular da estratégia “análise situacional” (o famoso “situational awareness” em língua inglesa). É relativamente frequente ver salas de situação nos filmes de guerra, apresentando mapas com a disposição das forças no espaço geográfico em conflito. O que não se consegue ver nos filmes é a forma como essas informações são adquiridas e que permitem atualizar os mapas que representam a situação real no terreno. E é precisamente essa a questão. Ao aplicar o conjunto dos seis factores referidos para assim obter as informações necessárias à estratégia, definimos os mecanismos subjacentes à sua aquisição. Uma parte será naturalmente alvo da quinta-coluna referida no último capítulo de A Arte da Guerra, com as famosas operações encobertas. Porém, para as empresas, a espionagem é proibida, quer do ponto de vista legal, quer moral, e é por isso que aplicamos as técnicas de inteligência competitiva. Os fatores de análise situacional de Sun Tzu são, portanto, os requisitos dos contornos operacionais dessa quinta-coluna.

Poucas são as empresas que utilizam as informações como pedra angular da sua estratégia. E como a imprevisibilidade do mundo empresarial nunca foi tão grande, talvez esteja na altura de aprender com Sun Tzu, colocando uma quinta-coluna no terreno para uma correcta análise situacional antes de passarmos à definição e execução da estratégia.