O ano de 2020 foi um ano atípico de grandes desafios, de grandes mudanças. Mas ficou também clara a importância do digital para a maioria das organizações, de forma transversal a todos os setores. Esta situação inesperada fez com que, em poucos meses – ou, em alguns casos, semanas –, as empresas fossem obrigadas a dar um enorme salto tecnológico para se conseguirem adaptar a um modelo de trabalho remoto. Praticamente todas as empresas tiveram de tornar-se, de uma maneira ou de outra, “empresas tecnológicas”.

Este ano de transformações pode ser dividido em duas fases distintas, mas complementares: a primeira fase, cuja prioridade foi garantir a continuidade, mais imediata, dos negócios (com a aposta em infraestruturas de suporte, em serviços cloud e em soluções que promovessem a colaboração entre equipas); e a segunda fase, em que sentimos uma maior aceleração do investimento em tecnologias de informação, projetos e processos com o objetivo de promover a transformação digital das organizações.

A maior conquista do setor foi, sem dúvida, uma afirmação clara do papel das tecnologias no futuro das organizações. O tema da transformação digital já era há muito debatido, mas o contexto pandémico veio acelerar e impulsionar a mudança. Para organizações mais “batidas” no tema, a transformação digital deixou de ser apenas uma questão de projetos de “inovação”, para passar a ser uma questão de sobrevivência num mercado cada vez mais global, digital e competitivo. Para as empresas/setores não tão focados no digital, o desafio foi e está a ser ainda maior, mas não impossível, pois, nestes casos, terá que haver uma transformação mais profunda, que poderá até significar a reinvenção de todo o negócio.

Mas falemos de futuro. Acredito que a primeira grande tendência para o próximo ano será a normalização e sedimentação do trabalho remoto. Mesmo que a situação pandémica dê tréguas e que muitas indústrias possam voltar ao negócio habitual, o equilíbrio que os colaboradores conseguiram atingir entre a vida profissional e a vida pessoal foi um ponto importante, que levou à mudança de mentalidades e que impulsionou algumas organizações a implementar novas medidas para os seus colaboradores, nas quais o trabalho remoto ou híbrido é uma opção válida. Este movimento está a acelerar a democratização de ferramentas de trabalho colaborativo e de produtividade. Com o contexto remoto a ganhar tração e dimensão, chegamos à segunda grande tendência para 2021: a cibersegurança. Há diversos temas de segurança com os quais as organizações irão deparar-se e a que, inevitavelmente, terão de dar resposta, pelo que a cibersegurança será, certamente, uma das prioridades das organizações para o próximo ano.

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O ano de 2021 será marcado também pela chegada do 5G. Mais do que nunca, as empresas necessitam de garantir um acesso mais rápido, fiável e de baixa latência a todas as suas plataformas de trabalho. Toda a realidade competitiva a que assistimos irá levar ao surgimento de soluções e tecnologias mais imersivas, mas ágeis, mais escaláveis, e o 5G irá estar no centro desta revolução. Devemos também considerar a automação como uma tendência que irá ser consolidada no próximo ano. Não é um termo propriamente novo em alguns setores, mas, até agora, o seu uso ainda não tinha sido generalizado. Com a crescente necessidade de melhoria de processos e com a aceleração das operações de negócio, a automação, através de tecnologias RPA (Robotic Process Automation), será fundamental para escalar a produtividade e responder às necessidades.

Mais do que gestor, sou pai de três crianças e, como qualquer pai ou mãe, anseio que os meus filhos tenham acesso às mesmas ou melhores oportunidades que eu tive, para crescer, evoluir e contribuir para um mundo melhor. Este é um momento único na história mundial e é urgente investirmos em duas grandes frentes: a digitalização da economia e da educação. É importante que exista consenso e vontade política para um plano estratégico nacional, com clara aposta na transformação digital da sociedade portuguesa. A digitalização é o caminho e só capacitando as pessoas e as empresas é que podemos alcançar vantagens para sobreviver a um mundo cada vez mais competitivo e global. É verdade que já demos alguns passos em Portugal, mas é preciso fazer muito mais: é preciso criar um plano mais abrangente, que envolva a sociedade com um todo. É preciso investir tempo e capital, para que possamos crescer e evoluir nesta vertente.

Além disso, é urgente adaptar e preparar o nosso modelo de ensino para uma nova realidade. Há vários estudos que indicam que as sociedades vão mudar mais nos próximos 20 anos do que mudaram nos últimos 300. São muitas as variáveis que podemos apontar para estas mudanças, mas uma das principais passa pela convergência e capacidade tecnológica, que está a fazer acelerar todo este movimento. E sim, a rapidez, talvez seja a grande diferença, comparativamente às grandes revoluções a que o nosso mundo já assistiu. A apelidada, por vezes, de quarta revolução industrial já está a acontecer e serão muitos os que serão apanhados desprevenidos. É urgente adaptar e capacitar todo o nosso modelo educativo, tendo em conta esta nova realidade, permitindo que a qualificação e requalificação de pessoas esteja acessível a todos e seja feita de forma mais rápida, ágil e eficiente.

É também importantíssimo haver um enorme investimento na literacia digital, logo desde os primeiros anos de escolaridade. Sempre houve um grande debate sobre a introdução de tecnologias e o equilíbrio das mesmas com os currículos existentes. O problema, neste momento, é que o mundo está a mudar a uma rapidez nunca vista e as próximas gerações irão deparar-se com uma realidade de mercado de trabalho onde a grande maioria das empresas são tecnológicas, mesmo em setores não tão tradicionalmente tecnológicos. Mais uma vez, a tecnologia. Porque, sem ela, já não conseguimos planear o futuro.

O setor das tecnologias de informação tem-se revelado algo resiliente ao momento que vivemos. Não é um facto surpreendente, tendo em conta a forte aposta em processos de transformação digital vinda de vários setores. As empresas de TI estão, claramente, na frente para ajudarem organizações de vários quadrantes a dar este passo. O percurso não é fácil e, infelizmente, algumas empresas ficarão pelo caminho. Mas é mais provável que o sucesso aconteça com os parceiros certos a liderar este movimento.