Nos últimos anos, as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC) têm sido promovidas como uma solução promissora para mitigar as alterações climáticas. A premissa básica destas tecnologias é simples: ser possível continuar a produzir energia a partir de combustíveis fósseis e outras atividades industriais intensivas em emissões, enquanto neutralizamos as emissões de gases de efeito estufa (GEE) antes de escaparem para a atmosfera. No entanto, apesar dos avanços significativos, é fundamental reconhecer que as tecnologias de captura de GEE, por si só, nunca poderão resolver o problema das emissões de gases de efeito estufa. Uma solução eficaz e sustentável requer um mix de tecnologias e medidas de mitigação complementares.
As tecnologias de CAC envolvem a instalação de dispositivos nas centrais emissoras de GEE, absorvendo essas emissões. Embora estas tecnologias existam há décadas, continuam a ser caras e difíceis de operar. Outra, a captura direta de ar (CDA) é uma tecnologia semelhante que captura dióxido de carbono diretamente da atmosfera. Contudo, a sua aplicação enfrenta desafios técnicos consideráveis devido à baixa concentração de CO₂ no ar. Estudos indicam que a probabilidade de colhermos dióxido de carbono na atmosfera é de apenas 1 em 2500 partículas (National Academy of Sciences, 2021).
No cerne destas dificuldades de viabilidade, está o facto de que a implementação de CAC e CDA consumir uma quantidade significativa de energia. Infelizmente as leis da física estabelecem um valor mínimo de energia necessário para recolher e armazenar as partículas de carbono em segurança, ou para as transformar em subprodutos. Estas tecnologias atualmente consomem muito mais do que o retorno que produzem em captura de GEE e resultado dos seus subprodutos. O custo médio atual, destas tecnologias, para 1 tonelada de CO₂ (t CO₂) capturado e armazenado ou reconvertido, é superior a 200 euros. Este elevado consumo energético implica que as tecnologias de captura, nos moldes atuais, não são a solução, por si só, a longo prazo (Global CCS Institute, 2022).
Para superar estas limitações, é essencial adotar um mix de tecnologias e medidas de mitigação. Tecnologias de absorção de GEE, como os sistemas de lavagem de GEE que ao mesmo tempo funcionam como recuperador de calor, a partir da fonte das emissões, produzindo parte da energia que alimenta o sistema, ou a absorção de GEE por filtros de algas, oferecem alternativas promissoras. Estas abordagens de filtragem podem capturar CO₂ de forma mais eficiente e com menor consumo energético, uma vez que utilizam processos de autoprodução de energia e/ou processos naturais para absorver CO₂, contribuindo eficazmente para a redução das emissões (IEA, 2023).
Além das tecnologias de captura, medidas de mitigação complementares são fundamentais. A gestão de consumo energético, que envolve a utilização mais consistente da eletricidade ao longo do dia, pode reduzir significativamente a procura de energia durante os picos de consumo. Por exemplo, programar o carregamento de carros elétricos para horários de menor procura energética pode aliviar a pressão sobre as redes elétricas. Para isso, são fundamentais sistemas de informação e políticas de incentivo para a regulação dos horários de consumo, produzindo resultados de oferta e procura mais compatíveis (European Commission, 2021).
Complementarmente, devemos normalizar, o uso de softwares e tecnologias de gestão de eficiência de potência e distribuição das redes elétricas. Sistemas inteligentes de gestão de redes, conhecidos como “smart grids”, permitem monitorizar e otimizar a distribuição de energia em tempo real, reduzindo desperdícios e equilibrando a carga energética de forma eficiente. Estes sistemas podem integrar fontes de energia renovável, prever padrões de consumo e ajustar automaticamente a distribuição de eletricidade para minimizar o uso de combustíveis fósseis. Tecnologias como a gestão de energia distribuída (DEM) e a resposta à procura (DR) são exemplos de soluções que ajudam a manter a estabilidade da rede e a reduzir as emissões de GEE (Smart Energy International, 2023).
A transição para energias renováveis, tem avançado com uma evolução tecnológica notável. No entanto, falta criar um plano a nível europeu que reflita, a médio e longo prazos, os impactos e necessidades territoriais, com políticas eficazes que permitam regulamentar, dentro das competências dos países-membros, a gestão territorial e o uso do solo que esta nova realidade exige, acelerando a implementação de parques eólicos e solares.
O aumento da capacidade de produção de energias solar e eólica pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir as emissões de GEE. No entanto, a infraestrutura necessária para estas energias requer uma grande quantidade de espaço. Por exemplo, um sistema de painéis solares pode ocupar entre 5 a 50 vezes o espaço necessário para uma central de carvão, e um sistema de turbinas eólicas necessita de dez vezes mais espaço do que um sistema de painéis solares (Renewable Energy Policy Network, 2022).
Para atingir a neutralidade carbónica, precisamos de planos que combinem o desenvolvimento de novas tecnologias de captura de GEE com medidas de mitigação eficazes. Apenas através de uma abordagem holística, que inclui a utilização de energias renováveis, a melhoria na gestão de consumo energético, a implementação de tecnologias de captura avançadas e a otimização da rede elétrica, conseguiremos enfrentar o desafio das alterações climáticas de forma eficaz.
Embora as tecnologias de captura de GEE sejam uma peça importante do puzzle, elas não são a solução única para o problema das emissões de gases de efeito estufa. É imperativo adotar um mix de tecnologias e medidas complementares para permitir alcançar os objetivos imperativos de neutralidade até 2050 para países desenvolvidos e 2070 para restantes países.
Como em tudo na vida, também aqui não há milagres. A compatibilização do tempo que necessitamos, de acordo com a teoria da evolução das espécies de Darwin, com os ajustamentos dos ecossistemas climáticos torna-se inviável sem o engenho humano. Precisamos de encontrar maneiras de harmonizar o futuro da vida na Terra com a capacidade de reduzir os impactos das alterações climáticas, e isso só é possível graças ao milagre que nos tornou a espécie dominante: a capacidade de criar soluções.