Se, até março deste ano, o teletrabalho era visto, no contexto laboral diário das empresas, como aquele regime um tanto ou quanto esotérico previsto em nem meia dúzia de artigos do Código do Trabalho, a partir da segunda metade daquele mês, assim como no mundo, também a realidade do teletrabalho mudou.

Se, até então, apenas as grandes multinacionais ou as empresas de IT previam, ou melhor, permitiam, que os seus trabalhadores, em algum momento, trabalhassem a partir de casa com toda a naturalidade, como se estivessem a trabalhar a partir das instalações da empresa, a verdade é que o grande tecido empresarial português era (e ainda é!) reticente quanto a este regime e jamais o tinha equacionado.

Certo é que tudo mudou quando se instalou a pandemia. O número de casos em Portugal começou a aumentar no início de março e em poucos dias o país paralisou: as escolas encerraram, foi decretado o estado de emergência e o confinamento e o regime do teletrabalho foi instituído. As empresas que até então olhavam para ele como o bicho papão, passaram a encará-lo como um aliado, uma vez que, se assim não fosse, os colaboradores não trabalhariam.

O teletrabalho está longe de deixar de ser persona non grata, já que o velho e antiquado patrão à la portuguesa continua a ter a mentalidade de que é necessário vigiar e controlar aquilo que o trabalhador está a fazer em horário de trabalho. E, não esquecer que em Portugal impera, também, a cultura de que sair à hora é sair cedo – como se o trabalhar a partir de casa fosse inimigo da produtividade. E quem disse que trabalhar mais tempo é sinal de maior produtividade?

Se, por um lado, 2020 foi um ano muito desafiante para empresas e trabalhadores, foi, por outro lado, um ano de aprendizagem e mudança: depois de 2020, depois da pandemia e depois da Covid-19, o teletrabalho já estará mais do que enraizado na cultura empresarial – quer para trabalhadores, quer para empregadores -, o que há muito se tentava alterar, com políticas que permitissem uma maior facilidade para a conciliação da vida profissional com a vida familiar, e que agora veio a ser instalado à força e às custas da pandemia.

Resta saber se após cerca de 9 meses em 2020 de experiência de teletrabalho, na realidade, 2021 será o ano em que o regime do teletrabalho ficará definido legalmente, em consonância com a realidade, e o ano em que as empresas depois de o estranharem, o entranham.

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