O verdadeiro big bang não foi assim tão big e não foi assim tão bang — para quem dá crédito à primeira história do livro do Génesis, ele teve apenas o tamanho de um fiat. Não o carro mas a palavra: Deus disse “faça-se” e assim se fez. Talvez este fiat lux seja a coisa mais explosiva da história do universo e, sim, nessa medida, será o maior estrondo de sempre. É por isso que um cristão não pode não ser obcecado por aquilo que uma palavra apenas pode fazer.

Nas muitas palavras que os cristãos encontram na Bíblia, permanece a lógica de que o que Deus diz pode fazer qualquer coisa acontecer — nessa perspectiva, as Escrituras são um registo constante de big bangs. Uma das pessoas que mais intimamente lidou com o processo de Deus fazer big bangs quando fala foi Maria. Maria foi a escolhida para outro big bang que não é apenas a palavra de Deus criar algo novo, mas é a palavra de Deus se tornar ela mesma uma pessoa. Visto assim, talvez o maior big bang da história não tenha sido o estrondo externo cósmico, mas o crescimento lento de uma criancinha na barriga daquela jovem hebreia.

Deslumbra-nos o arrojo da sugestão bíblica: a jovem Maria é visitada por um anjo que lhe anuncia que vai parir Deus. Maria, que não era diferente de nós, duvida, claro. Por todas as razões e mais algumas, não lhe estava nos planos. Mas há um mas. E na Bíblia a palavra “mas” é sempre promissora. Maria não esconde o cepticismo mas Maria sabe que o cepticismo não enche a barriga de ninguém: mal por mal, é a favor de que aquela palavra, por impossível que pareça, lhe seja escrita. E o gesto de não se satisfazer com o cepticismo é o que literalmente lhe encherá a barriga. Todos precisamos de ser Marias.

Maria teve o big bang na barriga e isso muda a história da humanidade. Quando uma mulher responde “sim” em vez do “não” que facilmente damos a Deus quando ele nos parece inacreditável, tudo pode acontecer. Cristo não nos acontece sem que a nossa palavra se junte à palavra que ele já é. Maria é uma mulher grávida na mesma medida em que deu conversa a Deus. Até ouvirmos as palavras que Deus nos diz, e especialmente as mais inacreditáveis, não geramos vida nenhuma. Na Bíblia, a esterilidade é sempre um modo de interromper o que o Criador nos está a dizer.

Um novo universo nasceu quando Maria disse o que Deus disse para criar o universo: faça-se. Faça-se em mim, cumpra-se em mim, disse Maria a Gabriel. “Fiat mihi secundum verbum tuum”. O que devemos dizer ao fiat de Deus? Fiat mihi. Vai rimar mas não vou resistir escrever assim: estamos na hora da graça quando se dá o encontro do “faça”. Encontra-se o “faça-se” de Deus na sua palavra com o nosso “faça-se segundo a tua palavra”. Fé é dizermos ao que Deus fala “faça-se em mim” — encontramos isso em Maria e encontramos isso, ainda mais e em estado perfeito, em Jesus. Jesus é o “faça-se” em pessoa.

Não há história como a do big bang na barriga de Maria.

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