Nas eleições presidenciais de 1980, o líder da AD (PSD/CDS-PP/PPM), Francisco Sá Carneiro, definiu, como objetivo político, a constituição de “uma maioria, um Governo e um Presidente”. A eleição de Ramalho Eanes, em 7 de dezembro de 1980, antecedida, três dias antes, da morte do líder da AD, impossibilitou a concretização desse objetivo.
Foi preciso esperar 31 anos para ver a direita portuguesa alcançar esse desiderato. A eleição, em 2006, de Cavaco Silva como Presidente da República e a vitória de Passos Coelho, em 2011, permitiram a concretização, durante quatro anos, do velho sonho de Francisco Sá Carneiro. A partir de 2015, a esquerda regressou ao Governo do país, tendo-se iniciado então um período de coabitação entre governos do PS, liderados por António Costa, e os dois últimos presidentes da República, ambos oriundos do PSD.
Finalmente, a vitória da AD, nas eleições legislativas do dia 10 em março de 2024, permitiu à direita portuguesa o regresso ao poder, estando, no Palácio de Belém, um inquilino oriundo da mesma área política.
Mas o que não tem precedentes na nossa História política é a acumulação, por parte de militantes do PSD, no mesmo período histórico, das lideranças do Governo da República, do Governo Regional dos Açores, do Governo Regional da Madeira e da Presidência da República. Trata-se de algo que nem Francisco Sá Carneiro ou Cavaco Silva lograram alcançar. A manutenção no poder, sem qualquer interrupção desde 1976, de governos do PSD na Região Autónoma da Madeira, impediu, por si só, o PS de alcançar o pleno da liderança institucional nesse mesmo âmbito.
No entanto, a acumulação de todo este poder institucional, por parte do PSD e dos seus aliados históricos (CDS-PP e PPM), tem vulnerabilidades. Os três governos são suportados por maiorias parlamentares débeis (veja-se que, na Assembleia da República e na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, o PSD tem exatamente o mesmo número de deputados que tem o PS).
Na minha opinião, tendo em conta o quadro político descrito, é vital, para o PSD e a AD, a manutenção dos quatro vértices do poder institucional que possui. Os mesmos retroalimentam-se entre eles, facto que permite atenuar as limitações que resultam da relativa debilidade da sua representação parlamentar nos vários quadros parlamentares do Estado.
A AD nacional teria ganho as eleições legislativas de março de 2024, sem a prévia vitória da coligação açoriana no mês anterior? Estou convencido – e a evolução dos estudos de opinião no período em análise, não deixam, a esse respeito, qualquer género de dúvida – que a vitória da coligação PSD/CDS-PP/PPM, nos Açores, deu um impulso decisivo para a criação de uma dinâmica de vitória da AD nacional.
Mas o contrário também é verdade. Não libertar o Governo Regional dos Açores da asfixia financeira brutal a que, durante três anos e meio, esteve submetido por parte do poder socialista instalado em Lisboa, constitui uma injustiça e uma ingratidão gritantes, mas é mais do que isso: é um erro político absolutamente evidente.
O Governo Regional dos Açores herdou uma dívida gigantesca, criada pelo poder socialista que governou o arquipélago durante 24 anos consecutivos, e teve de superar um conjunto de bloqueios e de reivindicações socioprofissionais incrustadas, cuja resolução significou um enorme esforço para as depauperadas finanças regionais herdadas dos socialistas.
Ainda assim, o Governo Regional conseguiu colocar a economia dos Açores a crescer de forma quase exponencial (o PIB regional quase duplicará o seu valor em relação a 2020, em apenas oito anos) e criar o maior número de empregos da história dos Açores.
Não é possível manter este impulso de crescimento com as atuais limitações orçamentais. Se esta questão não for superada ainda este ano, o projeto político da coligação pode começar a debilitar-se. Sem uma maioria parlamentar absoluta, o Governo Regional deve a sua subsistência ao seu êxito económico. Qualquer retrocesso nesta matéria implicará o fim do projeto político da coligação nos Açores.
A eventual queda dos governos minoritários da coligação nos Açores, e também na Madeira, constituirá o princípio do fim do poder social-democrata em Lisboa. Este precisa de tempo para se afirmar e não pode ser o destino final de um ciclone com origem no Atlântico, que seguirá certamente o seu percurso em direção ao Tejo.