Estamos a entrar em 2022, e é uma boa altura para traçar algumas perspetivas para esse ano.
1 No mundo vamos provavelmente continuar a ver um recrudescimento das atividades desestabilizadoras de países como a Rússia contra a Ucrânia, da China contra Taiwan, do Irão no desenvolvimento de armas nucleares e na promoção do terrorismo, etc.
A política externa do Biden ampliou muito a insegurança internacional, ao dar sinais de fraqueza e cedência.
Aos russos, permite-lhes construir o gasoduto que curto-circuita o fornecimento de gás natural à Alemanha, de modo que não tenha de passar pelos países intermédios. Isto coloca esses países numa posição mais fragilizada relativamente à Rússia, que lhes pode cortar o gás individualmente sem afetar a Alemanha. Putin percebeu que os EUA cediam de mão beijada uma das alavancas que tinham para pressionar e obter concessões da Rússia.
O resultado foi uma Rússia mais atrevida no conflito com a Ucrânia, ameaçando invadir, o que fará provavelmente no curto/médio prazo. Tudo vai depender das concessões que obtiver do Ocidente e dos problemas internos: quanto maiores forem as dificuldades da população russa, maior será a tentação de criar uma onda de apoio nacionalista através de uma invasão da Ucrânia.
Com a China as coisas não estão melhores.
A China leva já bastantes anos a fomentar o seu nacionalismo e a preparar-se militarmente, com crescimentos do orçamento para as forças armadas superiores a 10% ao ano na primeira década e meia deste século. O desenvolvimento de armas sofisticadas, como os mísseis hipersónicos e anti-satélite, o desenvolvimento do seu arsenal nuclear, o crescimento exponencial da sua marinha, o bullying de Taiwan e dos países da ASEAN, não deixam muitas dúvidas quanto às intenções belicistas chinesas.
O Irão está prestes a tornar-se uma potência nuclear, perante a ingenuidade dos europeus e americanos, que parecem ainda acreditar que o Irão negoceia de boa fé. A última ronda de negociações talvez lhes tenha aberto um pouco os olhos, quando os iranianos os confrontaram com exigências absurdas.
Nisto tudo há uma certa sensação de déjà vu, quando vemos as potências ocidentais cederem aos interesses e ao bullying da Rússia e da China, num paralelo arrepiante ao que aconteceu nos anos 30 do século passado. Como nessa altura, o Ocidente está muito mal preparado para uma guerra que parece inevitável, acreditando na boa fé de quem dá todos os indícios de que não a tem.
2 A crise económica, profunda, é algo com que podemos contar.
É verdade que há muitas incertezas, o que leva a grandes volatilidades nos mercados, ansiosos por qualquer sinal de que as coisas vão melhorar ou piorar.
Mas os indícios que temos não são muito animadores. Já parece claro que a aposta dos bancos centrais de que a inflação era transitória falhou. Agora estão com a fezada de que ela não vai entrar numa espiral vertiginosa, mesmo sem eles fazerem nada. É uma boa receita para quando decidirem fazer alguma coisa já terem tudo descontrolado. E então vai ser muito mais duro, com subidas abruptas das taxas de juro e fortes perdas do poder de compra.
As consequências económicas da pandemia vão fazer-se sentir com mais força, à medida que os estímulos, moratórias e compensações do Estado desaparecerem. Vai sobrar uma economia endividada, nas famílias, nas empresas e no Estado. As eventuais restrições por causa da pandemia vão agravar ainda mais o cenário para muitos sectores. Daí a importância de os governos serem comedidos nessas medidas.
3 Em Portugal afigura-se que não vai haver uma maioria estável a apoiar o governo que se formar depois das eleições de 30 de Janeiro.
Quer ganhe o PSD quer o PS, as possibilidades de coligações que têm, mesmo só de incidência parlamentar, são insuficientes para uma maioria absoluta estável. O resultado será um governo com os dias contados, a navegar à vista (das próximas eleições, é claro), fraco para implementar as reformas de que o País precisa desesperadamente.
Além disso, a situação financeira em que o governo socialista deixa o País é de tal ordem, somada às dificuldades internacionais, que quem ficar a governar-nos vai ter uma autêntica bomba a rebentar-lhe nas mãos. Vai ser muito difícil não ter de implementar medidas impopulares. Ainda mais difícil vai ser criar uma dinâmica de crescimento e motivar os portugueses.
Reconheço que a visão é um tanto negativa. Mas eu sou um otimista, e já passámos por dificuldades muito piores.
Um Feliz Ano de 2022!