Quem é Sebastião Bugalho? “Um jovem talentoso, um jovem que o país conhece, aqui e ali até polémico, que afronta, é disruptivo, estimula a confrontação com respeito democrático”. Sebastião está apresentado, Luís quase condenado.
Pior do que a escolha, só mesmo a justificação. Numa altura em que a Europa está colocada entre a espada e a parede, entalada entre a loucura de Putin e a cruzada da extrema-direita contra o projecto europeu, o primeiro-ministro do meu País acredita que o que faz mesmo falta é mediatismo e uma certa dose de polémica.
Ninguém sabe o que Sebastião Bugalho pensa sobre o futuro da União Europeia, mas isso, pelos vistos, também não interessa para o caso. Há juventude e talento. Ufa. Não fossem estas as eleições mais importantes da história da Europa e, num dia quente de junho – com o Europeu de futebol à porta -, Montenegro até poderia passar entre os pingos de meia dúzia de imperiais. A questão é que as próximas eleições não são um arraial de popularidade onde artistas, mais ou menos conhecidos, tocam acordes para animar a malta em tom disruptivo. Isto não é sobre um baile de verão, mas sobre o drama de uma guerra às portas da Europa, milhares de imigrantes à espera de respostas e centenas de deputados nacionalistas e xenófobos ansiosos pelo colapso do nosso projecto de Liberdade, Paz e Prosperidade.
O problema não é Bugalho, mas Montenegro considerar que os atributos que detalhou podem justificar a escolha de um cabeça de lista ao Parlamento Europeu. E sobre a parte do “jovem que o País conhece”, permitam-me que pergunte: que País? O PSD não aprende. Portugal não é a bolha mediática que entregou a comentadores o trabalho de jornalistas. (Querem mesmo falar sobre as audiências dos canais de notícias?) Ao contrário do que pensa o líder do PSD, o País não conhece Sebastião Bugalho e, mais preocupante do que isso, Montenegro parece não conhecer o País.
A escolha do jovem talentoso coloca uma pressão desnecessária sobre o Governo e deixa os Passistas a salivar por revolução. É uma espécie de tudo ou nada quando o partido e o País dispensavam jogos de póquer. A tarefa de Sebastião Bugalho não é fácil e nem é pela necessidade de enfrentar Marta Temido. O azar de Bugalho é que João Cotrim Figueiredo não é Rui Rocha e com o crescimento dos liberais para perto dos 10%, não há juventude que lhe valha. Aliás, quantos jovens portugueses aceitam o candidato da AD como um deles? Basta ouvi-lo.
O azar de Bugalho será o princípio do fim de Montenegro e o gás que faltava ao PS e a André Ventura. O jovem talentoso passa a carregar sobre os ombros os destinos de um partido, de um Governo e, por consequência, de um País inteiro. Nos jogos de póquer, temos de contar sempre com dias de pouca sorte. Seria um azar do Bugalho!