Com o fim do seu mandato presidencial à vista, Marcelo Rebelo de Sousa será lembrado como um líder que privilegiou a popularidade em detrimento da resolução dos problemas cruciais de Portugal. A sua presidência, marcada por afetos e selfies, falhou em impulsionar reformas e combater a estagnação que afeta o país há décadas.
Portugal precisava de uma liderança que desafiasse o status quo e promovesse soluções para os problemas estruturais que há décadas atrasam o desenvolvimento do país em vez de meros gestos simbólicos do “Presidente dos afetos”.
Oportunidades perdidas
Marcelo Rebelo de Sousa conquistou o público com a sua proximidade, mas a sua liderança revelou-se pobre em densidade. Desde cedo se percebeu que a falta de coragem, a gestão da estabilidade e, sobretudo, conseguir o apoio para a sua reeleição seriam as suas prioridades. A habilidade para o espetáculo mediático substituiu a capacidade de promover mudanças reais. Marcelo Rebelo de Sousa preferiu construir a imagem de um presidente de abraços, consolos e selfies.
Em momentos de crise, Marcelo limitou-se a ser uma figura presente mas impotente. A sua intervenção ficava-se pelo campo das palavras, faltando-lhe a firmeza para exigir reformas robustas ou responsabilizar os líderes políticos pelo fracasso em áreas críticas.
Durante o seu primeiro mandato, Marcelo viu a extrema-esquerda de mãos dadas com o Partido Socialista a governar o país. O ainda presidente foi cúmplice de uma política de navegação à vista, permitindo que o país ainda hoje se esteja a debater com as mesmas questões que encontrou após a sua eleição.
Privilegiando sempre uma suposta estabilidade, permitiu que António Costa fizesse o que bem entendesse, apesar das crises de confiança no governo, das sucessivas demissões e decisões catastróficas na gestão do país, entre elas a TAP, a Efacec, a gestão do SNS, a crise habitacional, a desastrosa gestão da pandemia COVID19, uma lista infindável.
Marcelo será lembrado por duas coisas: banalidade e mediocridade. Transformou a Presidência num palco de banalidades, retirando qualquer dignidade ao cargo, onde as verdadeiras questões acabaram por ser relegadas para segundo plano; e, por outro lado, celebrou a mediocridade, cujo exemplo mais recente é condecoração de António Costa com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Esta condecoração destina-se a distinguir destacados serviços prestados ao país no exercício das funções de soberania. Parece que Marcelo se esqueceu que António Costa não só deixou o país completamente estagnado e com enormes crises por resolver (para as quais não contribuiu com nenhuma melhoria), como também deixou o cargo de primeiro-ministro após se ver envolvido num dos maiores escândalos de corrupção da actualidade política do país.
Marcelo abandonará a presidência deixando um legado popular mas vazio de conteúdo, onde a banalidade e mediocridade são também a triste imagem de como Portugal se tornou no seu mandato.
A Marcelo Rebelo de Sousa, resta apenas o ocaso, a sombra do que poderia ter sido. Talvez, em um último ato de mediocridade, venha a condecorar o legado duvidoso de José Sócrates, ou até mesmo — quem sabe? — o próprio filho.