A expressão social do Manchester City no futebol em Inglaterra era bastante modesta até 2009, momento em que o Xeique Mansour comprou o clube. Desde então, foi alvo de um investimento absolutamente extraordinário materializado sobretudo na aquisição de jogadores de reputação mundial. Se desconsiderarmos o ano de 2018 em que teve de conter-se perante a ameaça do fair-play financeiro, nas últimas cinco épocas gastou 1.070 M€ em aquisições de jogadores. Hoje o plantel de futebol do Man City é o mais valioso do mundo, sendo o único que ultrapassa a marca dos 4 dígitos de milhões de euros (1.020 M€). Logo atrás, surge o Liverpool (965 M€), Barcelona (833 M€), Bayern de Munique (830 M€), PSG (825 M€) e Chelsea (787 M€). O resultado está à vista: na última década, o Man City venceu 5 das suas 7 Premier Leagues, 2 das suas 6 Taças de Inglaterra, 6 das suas 8 Taças da Liga, e 3 das suas 6 Supertaças Inglesas. Contudo, a concretização do seu investimento pela consagração de um título europeu não se fez (ainda) sentir. Este fim-de-semana, mesmo sendo favorito à conquista da UEFA Champions League, não conseguiu juntar um titulo europeu à Taça das Taças que possui datada de 1970. Que mais precisa este City para conquistar a Champions?

Ganhar a maior competição de clubes de futebol do mundo requer muito mais do que disponibilidade financeira. Não chega jogar dinheiro em cima de um sonho, como se de um empreendimento imobiliário se tratasse. No futebol, com dinheiro está-se mais perto de ganhar, mas à medida que se aproxima da meta são outros os atributos chamados a competir. Numa prova com adversários tão exigentes e de decisão irregular, em que o sucesso desportivo é jogado de forma não contínua num play-off a duas ou uma única mão, exige-se ao clube uma determinada dimensão cultural, social e histórica, e aos seus jogadores uma certa predisposição desportiva e psicológica.

É certo que Pep Guardiola tem responsabilidades na derrota com o Chelsea, sobretudo na definição da abordagem estratégica de um meio-campo desguarnecido de Rodri ou Fernandinho, incapaz de segurar o contra-ataque mortífero das setas Mount, Havertz e Werner. Mas é igualmente indesmentível que os outros clubes têm um passado que o Manchester City não tem. É preciso recordar que o City participou na UEFA Champions League pela primeira vez na sua história em 2011/12, tendo participado apenas uma vez, na então Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1968/69. Este seu percurso europeu contemporâneo tem sido vivido em crescendo. Se nas duas primeiras participações não passou da fase de grupos, ficou nosquatro anos seguintes nos 1/8º de final (com excepção de umas 1/2ª finais atípicas em 2015/16), e três anos depois nos 1/4º final. Esta foi a primeira final disputada e perdida. Nesta mencionada década, os clubes que ganharam a prova foram Real Madrid (4x), Bayern de Munique (2x), Chelsea (2x), Barcelona (1x) e Liverpool (1x), todos eles repletos de história e cultura desportiva. E desengane-se o mais desatento leitor ao julgar que o projecto Chelsea é uma réplica de Manchester City, pois este tem na Champions League 181 jogos em 17 edições, e 3 finais com 2 títulos conquistados, e 2 Ligas Europa vencidas.

É preciso que o Man City continue a criar cultura e ADN de vencedor. Para tal, é preciso recriar o hábito de viver decisões, e de conviver de forma saudável e natural com as suas rotinas. É preciso aprender a perder antes de se ganhar. O problema é que isso faz apelo ao bem mais preciso de todos, que poucos milionários extravagantes estão dispostos a alocar às suas visões: tempo. Pois quão mais perto da glória, maior é a dor do seu fracasso; quão mais próximo se está de uma conquista europeia histórica, maior é a ansiedade e o desespero dos investidores em não a conseguirem. E chega-se a um ponto de bifurcação onde o contexto faz apelo à resiliência e crença do líder na sua visão de projecto desportivo. Neste ponto, é enorme a tentação irrefletida de tomar decisões extemporâneas como mudar a estratégia de financiamento ou despedir o treinador. E é também neste ponto que as consequências de uma má decisão podem ser absolutamente devastadoras, podendo muitas vezes desacelerar (e não acelerar) a conquista de um titulo europeu, ou seja, produzir-se o efeito exatamente contrário ao desejado.

Tenho poucas dúvidas que o crescimento desportivo do Man City não é ocasional, mas sim estrutural. No meu entendimento, não foi o fim de nada, apenas o início de tudo. A partir do momento que o Man City começar a ganhar competições europeias, estas serão vividas de forma sucessiva e dificilmente paradas pelos seus adversários. Prepara-se uma década de hegemonia do clube, haja resiliência do líder para tal.

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