Aqueles quatro amigos nunca deixaram de se falar, apesar do destino brincar com eles, pois, por mais promessas que se fizessem, nunca se tinham conseguido reunir os quatro. Mas chegou o dia. Finalmente naquele sábado, depois de tantos anseios, iam estar todos juntos. Já não traziam os filhos com eles; agora eram os netos. Foi no liceu que Dino, Jorge, Luis e Abel se encontraram pela primeira vez, sem saberem que nesse ano lectivo, o 25 de Abril os ia encontrar a eles. Prontamente alinharam nos movimentos mais à esquerda, dizem que foi porque tinham as gajas mais bonitas, o que não era mentira; a verdade é que o discurso revolucionário era muito mais apaixonante, arrebatador e tinha ainda uma mais valia colateral porque era  uma fonte de argumentos para as querelas lá em casa. O jantar foi na casa do Dino que, com os anos, tinha ganhado fama de ser bom cozinheiro e todos queriam provar ser verdade o que alardeavam. Antes do jantar, estavam todos na enorme biblioteca, quando o neto do Abel faz cair uma colecção completa de livros duma prateleira. Ao verem a capa da colectânea, o ambiente de imediato gelou, pois tratando-se da ‘História do Nazismo’ a capa era comum a todos os volumes, uma suástica bem grande, a negro, sobre um circulo branco e fundo vermelho. Realmente quem entrasse naquele local naquela altura poderia ter ideias erradas, mas todos eles, conhecendo Dino, poderiam ter sido mais  sensatos. Caíram-lhe em cima dizendo-lhe que quem tem aquele tipo de leitura não poderia ser amigo deles. Dino bem lhes disse que olhassem com atenção para as estantes. Estavam lá colectâneas sobres os Reis e Rainhas de Portugal, serei eu monárquico?, vários volumes sobre a História da Religiões, serei o Papa?, de Portugal, de José Mattoso, biografias que iam de Agatha Christie a Gabriel Garcia Marques e Mao Tsé Tung; filosofia, Descartes, Noam Chomsky, Nietzsche, Slavoj Žizěk, e muitos outros volumes, incluindo as mais recentes edições ‘A Mais Breve História de…’ Nada adiantou. Ninguém de boa fé tem em casa livros com suásticas, sentenciaram. Não houve jantar. Afinal, haveria algo lá no passado que ficou mal resolvido e, aqueles velhos amigos, mais que adiar um encontro, eles foram-se cancelando durante décadas. Será que deram conta? E agora?

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