A emigração jovem devia fazer-nos refletir enquanto país. Quase três quartos não descartam a hipótese de ir para o estrangeiro concretizar os seus sonhos profissionais. Segundo uma sondagem recente, 54% pensam seriamente no assunto e mais de 20%, apesar de ainda não estarem tentados a, não excluem essa hipótese.

Os arquitetos são um exemplo paradigmático. Os recém-licenciados portugueses conseguem com relativa facilidade oportunidades atrativas em países europeus (Suíça, Alemanha, França, Inglaterra), ou noutras paragens mais longínquas, como o Canadá, a Austrália e, em especial, os países asiáticos. Recebem cinco, seis ou sete vezes mais do que o que receberiam no nosso País exercendo as mesmas funções.

As faculdades portuguesas estão também recheadas de estudantes de países europeus, sul-americanos e asiáticos. Estudar arquitetura em Portugal dá curriculum e permite o contacto com bons professores e metodologias de referência. No entanto, depois de terminado o curso, ou o período de intercâmbio, esses alunos viajam de volta a casa ou a outras paragens, levando a experiência universitária em Portugal como uma excelente carta de apresentação, mas pouco mais.

A elevada qualidade do nosso ensino confronta-se, num segundo momento, com um mercado de trabalho manifestamente desregulado, o que serve, indiretamente, para que Portugal exporte mão de obra de arquitetos em vez dos serviços de qualidade da arquitetura portuguesa, que existe, e em grande escala. Neste caso, a situação dos mais jovens é particularmente gravosa já que, enquanto não existir uma política integrada, a sangria de quadros qualificados não se resolve. E não adianta dizer a um jovem arquiteto “please, don’t go” porque tende a soar a uma cançoneta fora de moda dos anos 80 – esta geração não teme o mundo, receia, isso sim, deixar de acreditar no seu próprio valor.

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As poucas incursões de Portugal no mercado internacional da construção e do imobiliário fazem-se, regra geral, através de empreiteiros ou grupos imobiliários, o que no plano internacional não tem o valor necessário para fazer a diferença. Ao invés, poderia existir uma aposta nos serviços de projeto dos seus melhores quadros como arquitetos, engenheiros, urbanistas, paisagistas, e a partir daí beneficiar os restantes intervenientes do setor.

As vitórias recentes de ateliês de jovens arquitetos portugueses em grandes concursos, por exemplo em Helsínquia ou em Tirana, evidenciam o potencial das nossas empresas-ateliês quando lideradas por jovens. Fizeram-no num espaço de grande competitividade e não foi um desiderato assim tão comum, logo, são uma referência para o caminho a trilhar na internacionalização do País.

Não seremos antes capazes de exportar a nossa arquitetura em vez de exportar arquitetos? De viajar em trabalho em vez de emigrar para trabalhar? E conseguirmos ser competitivos nos mercados mais exigentes e não apenas ter as universidades a formar os técnicos especializados desses países?

Acreditamos que sim. No entanto, não podemos continuar com uma política que não valoriza as empresas de grande especialização como são as de arquitetura. Os jovens têm de sentir a aposta neles e que aqui podem ter um mundo de sonhos sem terem de fazer as malas.