Parece que os portugueses com disposição para responder às perguntas telefónicas realizadas pelas empresas de sondagens dizem, numa percentagem horrivelmente elevada, que estão dispostos a votar no Chega.

Os resultados da generalidade das sondagens publicadas indicam que o Chega pode ter cerca de 20% dos votos e eleger perto de 50 deputados.

O que levará tanta gente a dizer que está disposta a votar neste partido? As pessoas não são burras, com certeza estes votos não são todos de “fascistas” ou “racistas”, muito longe disso.

Então, o que tem o Chega, que parece convencer as pessoas a dizerem que votam nele?

Bom, tem desde logo, e talvez sobretudo, um líder que tem a escola toda no que à zaragata argumentativa diz respeito. Aprendeu a “arte” nos programas da bola, a gritar, com cara séria, que era penálti para o Benfica, quando toda a gente, mesmo os mais empedernidos benfiquistas, viam que nem falta era.

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É esta a convicção e cara de pau de André Ventura: inventa uma realidade paralela e, mesmo que todas as evidências o desmintam, insiste no que diz com tanta veemência, com tanta aparente convicção, que leva as pessoas a acreditarem que se calhar até tem razão.

Mas isto não é novidade. Joseph Goebbels, o mestre da propaganda nazi, já o sabia e tinha afirmado. É dele a famosa frase “Se repetires uma mentira vezes suficientes, as pessoas acreditarão nela, e tu mesmo acabarás por acreditar nela.”

Atenção: não se pense com isto que pretendo insinuar, sequer, que Ventura é fascista ou nazi. Não é, nem quer ser. É apenas um oportunista, um especialista do chico-espertismo, do debate de taberna, do discurso de táxi. Ventura e o Chega, na verdade, não possuem qualquer substrato ideológico, nem preconizam um modelo de sociedade.

A única luta que Ventura e o Chega travam é a da conquista de votos e, através deles, do acesso à influência e ao poder. Para quê? Pois, não acreditem que é para mudar seja o que for. Ventura é um “filho” do sistema, jotinha e PSD, reforçado pelas vitaminas de discussão futebolística do Correio da Manhã e, atualmente, transformado em campeão do populismo, da demagogia e da contradição política.

Não devemos julgar ou criticar quem diz que está preparado para votar nisto. Mas podemos perguntar-lhes: o que defende o Chega? Que tipo de País pretende? Quem são os quadros do Chega que podem governar Portugal?

Na verdade, podemos perguntar a cada um dos eleitores que pondera votar Chega se gostaria, verdadeiramente, de viver num País em que o Chega realmente mandasse. Suspeito que a resposta de praticamente todos seria: “nem pensar”. Ao que acrescentariam “apenas quero protestar contra o sistema e contra quem nos governa”.

Mas o Chega é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

Os que se dizem dispostos a votar Chega, mais tarde, ou mais cedo, mas esperemos que antes de 10 de março, vão perceber isto. Explicá-lo é prestar um inestimável serviço à democracia e à pátria.