Parabéns: é pai, tio, tia, madrinha, avó ou avô. O bebé acabou de nascer e o entusiasmo é grande — é provável que mal consiga esperar pelo momento em que o vai pegar ao colo e dar um pouco de mimo. É também provável que, ao longo do tempo, vá satisfazendo a curiosidade junto da mamã. Mas, atenção, há perguntas que, por mais inocentes que sejam, podem pôr os nervos maternais em franja. Por essa razão, o Observador falou com cinco mulheres que tiveram filhos há relativamente pouco tempo, dos dois meses aos dois anos. A todas colocámos a mesma questão: o que não perguntar logo após o grande dia? Estas foram as respostas.
1. “Ainda falta muito para o teu peso voltar ao normal?”
Joana Monteiro, 28 anos, é mãe há oito semanas. Teve uma gravidez normal, sem percalços, mas acha que estar grávida pela primeira vez é o equivalente a não saber nada. Como tudo é ainda muito recente, dificilmente se esquece daquela pergunta que a tirou do sério: “Engordaste muito com a gravidez?”. Joana explica que esta é uma questão recorrente, direta ou indiretamente. Volta e meia, ouve um “Ainda falta muito para o teu peso voltar ao normal?”. Para esta mãe, é um assunto tabu, especialmente logo após o parto. “Ninguém, ou quase ninguém, consegue fazer como a Carolina Patrocínio. A grande maioria de nós tem alguns quilos extra bem depois do parto”, contesta. O comentário “estás com um peito enorme”, que já ouviu algumas vezes, também não ajuda a recém-mamã a sentir-se bem consigo própria. “Uma pessoa ainda está em baixo logo após o parto. Tem a barriga tipo plasticina e nenhuma roupa serve! Eu fico sentida… Mas, na verdade, a indignação é muito uma resposta hormonal”.
2. “O bebé está com cólicas — não andas a comer mal?”
Marta Cruz tem 33 anos e é mediadora de conflitos, mas a profissão preferida é ser mãe do Filipe, que faz dois anos na sexta-feira. Ao Observador conta que “qualquer recém-mamã tem uma expetativa muito grande em relação à amamentação”. Por essa razão, nunca gostou de ouvir que, se o filho estava com cólicas, era porque a alimentação da mãe era má. “Observações desse tipo acabam sempre por desenvolver culpa. É como passar um atestado de incompetência. Tudo aquilo acaba por intensificar a insegurança de uma mulher que foi mãe há pouco tempo”. E acrescenta que, de todas as vezes, “havia sempre alguém que sabia mais do que eu!”.
3. “Estás sempre com ele ao colo, não é demais?”
O Rodrigo nasceu, há nove meses e meio, para a alegria de Marta Santos. O parto foi de cesariana e, nas primeiras duas semanas, a recuperação foi algo difícil para a mãe — “foi o meu marido quem mudou a primeira fralda”. Marta, que é psicóloga, confessa que uma das coisas que mais a chateava era o facto de familiares e amigos, sobretudo mulheres, a criticarem por pegar no pequeno Rodrigo ao colo. “Diziam que podia estar a habituar mal o bebé e usavam regularmente a expressão manha — como se um bebé recém-nascido pudesse ganhar manhas! Isso até chegou a influenciar o meu marido. Mas eu dava colo ao Rodrigo quando era necessário, não para o adormecer”, explica, acrescentando que, hoje em dia, a criança até está habituada a dormir no berço.
4. “Com quantos quilos nasceu o teu filho?”
Martinha Moderno nunca pensou muito na maternidade. Era uma questão para a qual não queria uma resposta tão cedo. Aos 38 anos, foi mãe de primeira viagem. Está cansada, mas feliz. Contesta o pouco tempo que tem para si própria mas argumenta que a única preocupação, de momento, é o pequeno que tem a seu cargo. O filho nasceu com pouco peso e, segundo os médicos, ainda vai demorar algum tempo até conseguir os valores considerados “normais”. Por essa razão, as comparações com outras crianças eram (e ainda são) habituais. “A primeira reação é sempre ‘tão pequenino’ ou ‘está tão magrinho’. “É pequeno, mas tem muita genica”, diz, enquanto se recorda de todas vezes que fizeram observações num tom pejorativo. “Os bebés são todos diferentes, as pessoas é que têm o mau hábito de fazer comparações”.
5. “Tens o leite fraco?”
“Aconteceu as pessoas questionarem o meu leite — ‘O leite não está a ajudar, se calhar é fraco'”. Para Ana Isabel Ngom, 34 anos, essas observações deixaram-na, desde logo, bastante insegura. “É desencorajador para a amamentação, talvez algumas mulheres comecem a usar suplementos por esse motivo”, questiona. Ao fim de 13 meses, continua a amamentar o que, ironicamente, também acaba por ser criticado pelas pessoas em seu redor. “A Organização Mundial de Saúde, inclusive, aconselha fazê-lo até aos dois anos da criança. Não o faço por isso, mas porque tem sido confortável para as duas. Mas para algumas pessoas isso é muito estranho”. A psicóloga Marta Santos partilha do mesmo problema: “Diziam que o meu leite era fraco porque o meu filho chorava muito. Mas, pelo que percebi dos médicos, o leite não é fraco. Podes é ter mais ou menos leite”.