O relógio do Congresso boliviano, em La Paz, passou esta terça-feira a ter a numeração das horas ao contrário e os seus ponteiros passaram a girar para a esquerda, naquilo que os responsáveis políticos do país definiram como uma afirmação dos povos do sul.
Reloj gira a la izquierda como símbolo del proceso transformación política en La Paz #Bolivia http://t.co/MhjY5siIrl http://t.co/VrFAslDui8
— Cruz Landaeta | @landa_jj (@landa_jj) June 24, 2014
É este o novo aspeto do relógio do Congresso
“Estamos no sul e é tempo de recuperar a nossa identidade”, disse David Choquehuanca, ministro dos Negócios Estrangeiros boliviano, que participou em pelo menos duas conferências de imprensa com o presidente Evo Morales e com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. “O relógio invertido (…) significa que, para nós, o nosso norte é o sul. Porque é no sul que nascem ideologias”, declarou na sua conta de Twitter Marcelo Elío, responsável pela Câmara dos Deputados, que referiu ainda “uma nova ordem mundial a nascer no sul”.
Reloj invertido de la cámara de Diputados Bolivia denota: Cambiar injusticias del NORTE por un nuevo orden mundial que nace desde el el SUR.
— Marcelo Elío Chávez (@elio_marcelo) June 24, 2014
“Quem disse que os relógios tinham de girar sempre neste sentido [para a direita]? Porque temos sempre de obedecer, porque não podemos ser criativos?”, perguntou Choquehuanca, que revelou ainda que na recente cimeira do G 77, realizada no país, todas as delegações receberam um relógio com as mesmas características em forma de mapa da Bolívia – incluindo territórios que já não lhe pertencem.
O relógio foi alterado na sexta-feira passada à meia-noite, altura do início do solstício de inverno, explicou o presidente do Senado boliviano. Os atuais números decimais foram pintados por cima da numeração romana que o aparelho tinha desde 1905.
Muitos habitantes de La Paz e a oposição parlamentar boliviana foram apanhados de surpresa pelas mudanças no relógio, o que levou mesmo alguns deputados a pedir explicações ao Governo. “Se quiserem comprar um relógio do sul, façam-no; se querem usar um do norte, poderão utilizá-lo. Não se pode impor”, disse Choquehuanca, quando questionado sobre o novo sistema de relógios seria tornado obrigatório para todos os cidadãos bolivianos.
Lisboa também tem um relógio assim – há décadas
Também há um relógio com os ponteiros a andar ao contrário em Lisboa. Mas sem qualquer mensagem política. É o velho relógio do British Bar, junto ao Cais do Sodré, onde o mostrador enquadrado por uma moldura de madeira é apenas mais uma peça da decoração kitsch daquele velho estabelecimento. “Roda em sentido contrário e marca horas pontualíssimas”, disse dele José Cardoso Pires no seu livro “Lisboa, Livro de Bordo” (1997).