Mal se conheceram os nomes de Juncker para a nova Comissão Europeia e os partidos políticos começaram de imediato a reagir. Nas redes sociais, os socialistas apelidam de “ridículo” que Moedas fique com a pasta da Investigação mas, tendo em conta o perfil do comissário escolhido por Passos Coelho, reagem dizendo que ainda bem que Portugal não ficou nem com uma pasta económica nem social.
António Galamba, da direção do PS, considera que Moedas é o “rosto” da ” voragem destruidora da qualificação, da investigação e da ciência” e que, por isso, à sua escolha apenas pode ser aplicado um adjetivo: “Ridículo”.
Também Carlos Zorrinho, o homem do Plano Tecnológico de José Sócrates, eurodeputado e ex-líder da bancada parlamentar do PS, critica a escolha, mas por outros motivos. Para Zorrinho, é quase um alívio que, tendo em conta o perfil “ortodoxo” de Moedas, este não tenha ficado com uma pasta económica e, diz: “Os socialistas bateram-se contra a hipótese de um candidato com o perfil ideológico de Carlos Moedas ficasse numa pasta social. Conseguimos”.
Já Idália Serrão, deputada socialista, ficou-se pelas meias palavras irónicas: “… na busca incessante do conhecimento científico”.
O líder da delegação do PCP ao Parlamento Europeu, João Ferreira, considerou, por sua vez, que Carlos Moedas vai para Comissário da Investigação e Ciência depois de no Governo ter sido um dos rostos responsável pela asfixia destas áreas em Portugal.
“Além de não ser conhecido a Carlos Moedas qualquer pensamento e trabalho específico anterior nas áreas de investigação e ciência, foi atribuída a Carlos Moedas esta pasta, quando é um dos rostos do Governo que nas últimas décadas mais atacou a ciência e investigação, bem patente na asfixia financeira e material das universidades e laboratórios do Estado”, afirmou João Ferrreira à Lusa.
Segundo o deputado comunista, o Governo de Passos Coelho é o responsável pela “diminuição significativa de bolsas de investigação”, de uma avaliação a centros de investigação “cujo objetivo é encerrar” grande parte. “Carlos Moedas é um dos rostos que está a gerar indignação na comunidade de científica e que está a levar emigração muitos investigadores”, acrescentou.
“É uma péssima notícia para o povo europeu, porque facilmente se percebe que Carlos Moedas não tem quaisquer pergaminhos na área da educação e ciência”, declarou, por sua vez, a deputada e dirigente do BE Mariana Mortágua aos jornalistas, na Assembleia da República.
“Profundo conhecedor”, realça Governo
Do PSD, o deputado Duarte Marques fez questão de salientar que “para quem ia ficar com uma pasta da treta, sem qualquer valor, Carlos Moedas fica com uma das pastas de futuro, fundamental para o crescimento económico, com um enorme orçamento e sobretudo com uma grande responsabilidade. Boa sorte.”
Em declarações à imprensa, o vice-presidente do PSD, Matos Correia, defendeu que a escolha de Carlos Moedas é “extraordinariamente relevante” uma vez que vai assumir “responsabilidades dessa área central para o futuro da competitividade da economia europeias”. Para o social-democrata, não é de somenos a escolha de uma pasta com “um envelope desta dimensão” (80 mil milhões de euros) para ser gerida por Moedas.
Perante a possibilidade que acabou por cair, de Moedas ficar com a pasta do Emprego, Matos Correia disse apenas que “o que interessa é a decisão final” e que a escolha de Moedas para a Investigação, Inovação e Ciência mostra o “reconhecimento das competências e da qualidade de Carlos Moedas”, mas também “o reconhecimento do acerto da escolha feita por Portugal e por Pedro Passos Coelho”.
O Ministério da Educação, de Nuno Crato, emitiu um comunicado congratulando-se “com a atribuição da importante pasta de Investigação, Inovação e Ciência da Comissão Europeia” a Moedas.
“Estamos a viver um momento decisivo e extremamente desafiante para a investigação europeia, com o início do maior e mais ambicioso Quadro Comunitário de Apoio à Investigação e Inovação, da história da União Europeia, com 80 mil milhões de euros”, destaca. “Trabalhamos para aumentar a densidade qualitativa do sistema e para potenciar a competitividade internacional da ciência portuguesa, reconhecendo na ciência um potente motor de desenvolvimento cultural, social e económico. Uma propulsora de riqueza”, acrescentou.
Crato considera ainda que Moedas é “um profundo conhecedor dos esforços realizados por Portugal na preparação do Sistema Científico e Tecnológico Nacional”.
O ministro dos Negócios Estrangeiro português considerou que a nomeação de Carlos Moedas para comissário da Investigação, Ciência e Inovação “significa uma apreciação muito positiva” do trabalho do interlocutor da troika em Portugal nos últimos anos.
“Isso significa uma apreciação muito positiva do trabalho de Carlos Moedas, que é reconhecido pela União Europeia porque foi o quotidiano interlocutor da ‘troika’ durante este período difícil que Portugal atravessou”, disse Rui Machete, à margem de uma intervenção na conferência que decorreu hoje em Lisboa sobre ‘O elo perdido na União Económica e Monetária: coordenação de políticas económicas e reformas estruturais’.