“A estratégia orçamental é correta e seja quem for que esteja no poder não vai poder ter objetivos quantitativos muito diferentes destes”, defende Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, em comentário à proposta de Orçamento do Estado para 2015. “Não há varinhas mágicas” atira.
O presidente do BPI defende que “Portugal não tem grande margem de manobra para fazer muito diferente disto”. “Vamos ter de viver muitos anos a fazer isto”, diz o banqueiro, referindo-se à consolidação orçamental e a geração de saldos primários da despesa (sem juros) positivos.
As declarações foram proferidas em Lisboa, durante uma conferência organizada pela sociedade de advogados PLMJ para discutir a Reforma do IRS e o Orçamento do Estado para 2015.
O presidente executivo do BPI começou a sua intervenção elogiando o antigo ministro das Finanças. “Vítor Gaspar foi um grande ministro das Finanças e fez aquilo que, naquele momento, o país necessitava”.
Fernando Ulrich afirmou que “isto não quer dizer que concorde com todas as medidas” da proposta de Orçamento mas “sendo a política europeia aquilo que é neste momento, não vejo muita margem de manobra para um país como Portugal fazer algo muito diferente”.
“Vamos ter de fazer como o cardiologista recomenda: caminhar em passo estugado, não é caminhar em passo lento a ver as montras mas continuar” o nosso caminho, diz Ulrich. “Não acredito em varinhas mágicas nem em soluções muito radicais porque estas podem acabar por revelar-se mais penosas do que as que já estamos a tentar”, rematou.
E com o que é que não concorda? “Pormenores”
À margem da conferência, ainda em análise na proposta de Orçamento do Estado para 2015, Fernando Ulrich considerou que “o grande objetivo do orçamento, que é de obter um saldo primário positivo [despesa sem juros], é um objetivo que infelizmente um país como uma dívida muito grande, como Portugal, vai ter de ter durante muitos anos, independentemente de quem esteja no governo”.
Mas, tendo dito durante a conferência que “não concordava com algumas medidas” do Orçamento, Fernando Ulrich explicou que não concorda com “pormenores”. “Não quero estar a falar especificamente da banca, mas evidentemente que é, no mínimo, irónico que o governo diga no texto da medida que o governo procurou fazer incidir as medidas sobre quem tem mais poder contributivo e, depois, faz isso só sobre a banca”. “E maior parte dos bancos que operam em Portugal, em Portugal, têm prejuízos ou lucros muito reduzidos”. “Parece-me que a medida está mal dirigida”, rematou o presidente do BPI, sem querer elaborar mais sobre esta questão.
O presidente do BPI comentou, ainda, que “não me parece assim tão irrealista a meta de um crescimento do PIB de 1,5%”, como prevê o governo na proposta de Orçamento do Estado para 2015. Além disso, “não é um crescimento gigantesco, sobretudo para uma economia que teve crescimentos negativos em vários anos”, diz Ulrich. “Estamos sujeitos a muitas contingências, se a economia europeia estiver fraca torna-se mais difícil” mas também há evoluções positivas como a recente evolução do preço do petróleo, que será positiva para Portugal”, afirma o presidente-executivo do BPI, defendendo que mesmo “1,5% é menos do que aquilo de que Portugal precisa para reduzir de forma sustentada o desemprego”.
Finalmente, quanto à possibilidade de eleições antecipadas, um cenário de que alguns comentadores têm falado, Ulrich diz que “se resultar de um entendimento entre os partidos e o Presidente da República, só esse entendimento em si seria positivo”. Mas esta é uma discussão em que Fernando Ulrich “não quer participar”.