Pouco depois de aterrar no aeroporto da Portela, em Lisboa, por volta das 22h10, o ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na madrugada deste sábado. Mas ainda antes de esta mensagem ter sido enviada às redações pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o canal televisivo SIC já passava imagens do ex-líder do Partido Socialista a sair do aeroporto detido. Em julho, a Polícia Judiciária (PJ) também foi buscar Ricardo Salgado a casa quando este se tinha oferecido para comparecer no Campus da Justiça por vontade própria. Temos aqui o regresso da justiça mediática?

Para o deputado socialista João Soares, a presença de meios de comunicação na detenção de José Sócrates no aeroporto é “uma tentativa de humilhação”. “A prisão, ao inicio da noite no aeroporto de Lisboa, com pelo menos uma câmara de TV de sobreaviso, é, antes de tudo, uma tentativa de humilhação do próprio ex-primeiro-ministro. Tratando-se de uma sexta-feira à noite, é, na minha opinião, uma ainda mais perversa tentativa de humilhação”, escreveu João Soares, na sua página pessoal do Facebook.

Marinho e Pinto, ex-bastónário da Ordem dos Advogados, em declarações ao Observador lembrou que neste caso “temos o problema da não preservação do segredo de justiça”, devido a alguns meios de comunicação terem conhecimento da detenção do ex-primeiro-ministro, e que isto “deve ser objeto de análise” quando forem conhecidas as medidas de coação.

“Foram avisados por quem sabia, o que mostra alguma promiscuidade”, disse Marinho e Pinto, ao Observador. Para já, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados considera a intervenção “desproporcionada” e “humilhante”. “Só depois de ser ver o despacho do juiz é que podemos fazer uma reflexão sobre a proporcionalidade da intervenção”, explicou. Porém, Marinho e Pinto têm a certeza que esta detenção “terá consequências políticas para Portugal”.

Por sua vez, Eduardo Cintra Torres, especialista em televisão, assume que a presença de meios de comunicação no local foi propositada. “A justiça quis que ficassem imagens”, disse ao Observador, assegurando que “Sócrates encontrou o seu lugar na História”. “É como a decapitação do rei Luís XVI, vai marcar a história”, explicou.

Para o especialista, as autoridades judiciais têm consciência que “hoje em dia a história faz-se com muitas imagens” e os meios de comunicação não estavam lá por acaso. Contudo, não considera que se trate de uma mediatização da justiça, mas sim “a justiça a ser acompanhada pelos media”. Caso não existissem provas como as imagens da detenção, Eduardo Cintra Torres considera que isso podia levar a uma situação de “alarme social”. “Seria pior não haver imagens. A justiça compreendeu que este é um momento histórico e que tinha que ficar registado em imagens numa sociedade de imagens”, explicou.

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