O walkman está de volta. Calma, senhoras e senhores, não há cassetes metidas neste filme, nem canetas para enrolar aquela fita teimosa que decidia sair do tom. Leitores mais jovens, tenham piedade dos anos 80 e 90. Este walkman é digno do século XXI. Simplifiquemos, intrigando, antes de entrar nas conversas técnicas: imagine que vai mudar de vida para a Austrália e quer levar toda a roupa do roupeiro. Bastava uma mala de mão… Et voilà! Quando a abria, conseguia retirar de lá toda a tralha, em estado impecável, como quando fez a mala. Pois, é mais ou menos assim que funciona este walkman da Sony. Trabalha como os MP3 e iPods que conhecemos, mas com mais qualidade do que ouvimos num cd.

É este o argumento da marca, que diz ser agora o timing certo. E tudo graças ao Hi-Res, um sistema de alta resolução de som (como quando vemos a televisão em HD — alta definição), que sustenta ficheiros gravados em WAV, FLAC, AIFF e ALAC, assim como os habituais MP3 e AAC. Para os mais entendidos, ou curiosos, aqui está um vídeo que explica as funcionalidades deste walkman (há duas versões, NWZ-A15 e NWZ-A17):

Entremos nas conversas (quase) técnicas. Como cabem tantas músicas nesses aparelhos? São comprimidas, são cortadas, nos tons graves e agudos, perdendo qualidade. O ouvido humano é pouco exigente, e vai ficando cada vez mais preguiçoso. A qualidade dos auscultadores também é importante neste assunto, mas até aí facilitamos. Ou a carteira não deixa, pois claro. Conclusão: a Sony diz ter criado um aparelho que comprime muitas, muitas músicas e que as reproduz numa qualidade ainda melhor do que o CD, aproximando-se do que se ouve no estúdio, quando os artistas gravam. É esse, aliás, um dos slogans: a música que os artistas pretendem. Ou seja, as músicas levam o tal corte e costura para serem comprimidas e depois, na hora da reprodução, o processo de corte e costura acontece no sentido oposto. Assim, sem mais nem menos, como quem despe e veste um casaco.

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Numa viagem-relâmpago, o Observador foi a Londres para o lançamento do Walkman NWZ-A15, o tal aparelho que cantarola com mais qualidade do que os CD. O palco era o Studio A, no Metropolis Studios. Por aqui, bandas como The Verve, Massive Attack e Amy Winehouse gravaram álbuns, pelo que se sentia um sabor especial ao percorrer cada metro. Aquilo era uma antiga “Power House”, que no início do século XX funcionava para carregar os elétricos. Algumas décadas depois ganharia o estatuto de estúdio, onde gravariam grandes nomes desse mundo com que andamos sempre de mão dada. Por fora era só mais um prédio, sem nada de relevante. Branco, com telhado engraçado e alguns tijolos a colorir. Simples. Lá dentro, bom dia tecnologia. Aquelas paredes em forma de cascata, que respeitam a acústica e as maravilhas do design e da arquitetura, eram irresistíveis. Foram tantas e tantas ondas de som de alto gabarito, saídas de guitarras, pianos e vozes incríveis, que esbarraram nestas paredes.

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Metropolis Studios, em Londres (D.R)

Nesse Studio A, Walkmans NWZ-A15 e phones em barda esperavam os cerca de 30, 40 jornalistas. Parecia uma igreja, com bancos à espera dos crentes, que só queriam ouvir o sermão e as novidades. O pregador era um jornalista britânico, que teria ao lado a banda Editors, que esteve em Portugal em 2013, para atuar no Optimus Alive. Tudo ok, era tempo de mexer e explorar, quais meninos da creche quando pegam na plasticina. Leve, muito leve, pequeno, com design simples e fácil de manusear. Foram estas as primeiras impressões. Para testá-lo, os jornalistas foram convidados a ouvir algumas músicas de dois álbuns dos Editors. Tocaram ainda duas ao vivo.

Depois, os elementos da banda deram uma achega sobre a qualidade do som, tudo em amena cavaqueira. “Aqui neste minuto conseguimos ouvir o barulho de um animal” ou “aqui o piano ouve-se de outra forma”, e ainda “aqui testámos algo diferente”. Estes três rapazes conheceram-se na universidade, quando estudavam música. Nesta era do YouTube e Spotify ouvimos as músicas de forma aleatória ou não seguida, digamos, mas este novo aparelho tem a pretensão de devolver a importância à estrutura dos álbuns. Pelo menos é isso que espera o vocalista, Tom Smith: “A estrutura do álbum é importante. Os álbuns devem sempre acabar com uma música triste”. E era assim que o test-drive se desenvolvia, visando gritar e comprovar as qualidades deste aparelho de alta resolução musical.

Música, rádio, Bluetooth (para ligar ao carro, por exemplo, ou receber ficheiros), fotografias, vídeos, Podcast. Pouco mais há no ecrã principal do walkman. A qualidade do som impressiona, sim. Mas fica-se na dúvida se é assim tão diferente do que estamos habituados (até porque os jornalistas utilizaram uns phones avaliados em quase 200 euros). O tal ouvido está preguiçoso. Para os mais entendidos estava mais fácil de entender a dimensão do fenómeno. Seria vital comparar os sons. Para tal, e já em Lisboa, ouvimos a mesma música quase dez vezes no walkman da Sony e noutra plataforma. E sim, é diferente. É mais puro, mais limpo. Nota-se, essencialmente, quando o volume fica muito alto.

A bateria deste aparelho prevê uma utilização de 30 horas. Porém, há um plano B: existe a opção de ouvir música com a qualidade de MP3, com o tal casaco despido, portanto, o que permite uma bateria até 50 horas. A versão mais humilde no que toca a memória — 16 GB — não permitirá ter muitos álbuns gravados em alta qualidade. Já o NWZ-A17 Walkman tem 64 GB de memória.

O produto não é novo, como alertou a marca na apresentação, pela voz de Alberto Ayala, o espanhol responsável pela Sony na Europa. Falamos de aparelhos de música em alta resolução, e não do walkman. Essa realidade do Hi-Res existia para pessoas com o bolso e carteira mais sorridentes, e principalmente para homens e mulheres do mundo da música, como DJ’s. Numa viagem pela internet, pelo mundo das críticas e reviews, há quem elogie os detalhes, a dimensão (pequena) do aparelho e o facto de ser possível expandir a memória (cartão microSD). Outros criticam o design, mais um ou outro pormenor, mas parecem estar de acordo quanto à qualidade do som do aparelho. O preço andará à volta dos 200 euros.

Depois da sessão com os Editors (quem quiser ver a entrevista completa, está aqui), onde foi dada a conhecer a história da banda, o que tem feito e as opções para o novo álbum, a comitiva seguiu para outro estúdio, onde estavam diferentes produtos da Sony, como speakers, phones, entre outros. Era uma autêntica feira tecnológica que faria muito boa gente feliz.

“Psycho Killer/Qu’est-ce que c’est/Run, run, run, run, run, run, run away”

Esta aventura londrina não ficaria encerrada sem uma visita a Camden, onde Amy Winehouse outrora vivera. É um local especial, cheio de lojas e cantinhos por descobrir. Tantas mentes brilhantes têm por ali um espaço para vender a arte que um dia decidiram inventar. Ou aperfeiçoar. Depois do jantar, e enquanto os jornalistas caminhavam para a última etapa — uma exposição num bar –, era possível ver alguns bares a vender vida. Num deles estava uma banda que mais parecia estar a dar um concerto no Estádio de Wembley, para dezenas de milhares de fãs, tal era o ritmo frenético e atitude do vocalista. Talvez nem dez pessoas estariam a assistir…

O maior exemplo da arte individual que por ali respira é o Stables Market. Barracas e “barraquinhas” com tudo e mais alguma coisa. Por lá até existe uma loja de grande dimensão, com um boneco à porta que mais parece sacado do filme “Guerra das Estrelas”, que vende roupa, ténis, camisolas e chuteiras de futebol, etc. Até aqui tudo bem, não fossem os bailarinos a curtir ao som de uma música eletrónica, que não entra bem nos ouvidos de qualquer um. Abraçando a canção “Anel de rubi” de Rui Veloso, aquilo tem mesmo “música maluca, sempre a subir”… Dificilmente se fica meia hora, não se faz “um esforço ‘pra gostar” e vai-se embora. Mas há quem goste.

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Gilgamesh, um bar em Camden, Londres (Félix Palazuelos)

O tal bar onde estaria a exposição ficava nesse Stables Market e chamava-se Proud. Era um antigo estábulo, as divisões não enganavam. No primeiro andar, estava uma DJ, que volta e meia sorria para quem abanava a cabeça. “Last Nite” dos The Strokes e “Psycho Killer” dos Talking Heads, com remix para a noite, claro, foram alguns dos sons do repertório. Aquele “Psycho Killer/Qu’est-ce que c’est/Run, run, run, run, run, run, run away” é coisa para ficar na cabeça a noite toda…

Cada divisão tinha aparelhos da Sony para experimentar e estava revestida com fotografias com décadas. Tinham barbas, mesmo. Momentos de Pink Floyd, Jim Morrisson, Paul McCartney e The Doors captados para todo o sempre. E ali estavam, à disposição de quem caminhava por entre um estábulo sem cavalos, virado para a tecnologia, com um gin na mão.