Há mais um mistério a assombrar a Rua de São Bento. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter lançado a dúvida sobre a identidade dos deputados que viam imagens de “raparigas avantajadas” no computador em pleno hemiciclo do Parlamento, a escola a que pertenceria a aluna que escreveu ao professor a denunciar a situação não visitou o Parlamento na data referida.
O professor disse, no seu habitual espaço de opinião na TVI, que uma “adolescente de 16 anos, do 11º ano, da Escola Secundária Alves Redol de Vila Franca de Xira” lhe enviara um e-mail, também enviado para o Portal do Governo, em que relatava uma suposta visita à Assembleia da República.
“Deputados o tempo todo no Facebook a ver raparigas avantajadas, outros a assistir a vídeos de quedas, aqueles que se encontram no YouTube para fazer as pessoas rir, uma vez três deles juntaram-se a rir de qualquer coisa no computador, outros a ver mails publicitários”, leu Marcelo da carta que terá recebido da jovem.
Só que, consultando a página de internet do Parlamento, constata-se que, no dia 20 de novembro, não há registo de que turmas da Escola Secundária Alves Redol, em Vila Franca de Xira, tenham estado a assistir à sessão plenária. Nem, aliás, em qualquer outro dia em que tenha sido debatido o Orçamento do Estado – como Marcelo disse que aconteceu. Isso mesmo foi notado por alguns blogues, como, por exemplo, o 365 Forte.
Estarão os deputados nacionais a dedicar o tempo de plenário a ver “raparigas avantajadas” nos seus computadores? A alegação motivou a indignação dos visados. Onde? No Facebook, pois então.
O deputado do PSD Carlos Abreu Amorim manifestava assim, esta segunda-feira, a sua desconfiança para com a história que Marcelo Rebelo de Sousa trouxera no domingo à antena.
Também o deputado socialista José Magalhães escreveu um texto no Facebook em que considera a carta lida por Marcelo como “muito estranha”. Esta terça-feira, o Observador já não conseguiu encontrar o post de José Magalhães na sua página na rede social, mas o deputado, citado pelo DN, comentava que “o prof. Marcelo endossou como verdadeira uma situação impossível, lançando sobre o todo do hemiciclo uma suspeição de conduta imprópria e estúpida”.
“Curioso Tb [também] porque malta a ver tipas avantajadas em dia de Passos orar ou noutro sob olhar de galerias seria bizarria pelo número e diversidade”, ironizou o socialista, que argumentava ainda que “mesmo uma sra. muito avantajada dificilmente se distingue de uma banana, quando vista das galerias.”
Miguel Vale de Almeida, ex-deputado socialista, prefere destacar que a atividade parlamentar “não tem de ser uma performance do século XIX” e que “não há nada de intrinsecamente indecoroso em estar online”.
A instalação de computadores para cada deputado no hemiciclo, por sua vez, já tinha sido polémica. Foi feita nas obras que a sala sofreu entre 2008 e 2009 e foi alvo de críticas, nomeadamente, de deputados do PS, como José Lello, que pelo menos uma vez pediu à Assembleia que estabelecesse regras que impedissem os fotógrafos dos jornais e os operadores de câmara de captarem o que os deputados estavam a ver no computador.