Passos Coelho não acredita em contos de crianças, já o PSD prefere falar de tragédias ao melhor estilo grego e a oposição prefere falar de uma espécie de filme com o final feliz na Grécia e num “filme de terror”, por cá. A vitória do Syriza na Europa aquece a política nacional com dois lados da barricada ou “dois campos”, como chamou Catarina Martins: os que têm esperança e veem na vitória na Grécia um “caminho de mudança” e aqueles que questionam como vai o Syriza governar dentro do Euro?
O Parlamento português foi esta quarta-feira à tarde uma segunda câmara do parlamento grego. Pelas mãos do PCP e do Bloco de Esquerda, que fizeram declarações politicas sobre o tema, o Syriza transformou a correlação de forças na AR: hoje foi o BE e o PCP a defender o Governo (grego) e o PSD e CDS a fazerem o papel de oposição.
“Ficamos agora a saber que o primeiro-ministro de Portugal não gosta de contos para crianças. Assim qualifica a renegociação da dívida, de que nem quer ouvir falar. Assim desdenha a opção soberana do povo de um país da civilização europeia que exprimiu democraticamente a sua vontade. Aos contos para crianças, o primeiro-ministro Passos Coelho prefere os filmes de terror, que mais se assemelham à situação vivida pelos povos submetidos às políticas de austeridade que tão fanaticamente defende e impõe”, começou por dizer o deputado do PCP António Filipe. O deputado comunista admitiu que não é possível “extrapolar os resultados”, mas que é preciso retirar algumas conclusões, nomeadamente que a renegociação da dívida é incontornável.
António Filipe foi mais cauteloso na colagem do PCP ao resultado do Syriza, e, em resposta a perguntas de deputados do PSD até admitiu que é difícil ao SYRIZA fazer o que prometeu aos gregos e respeitar as regras da arquitetura do euro e que por isso o PCP estará atento: “Reconhecemos que é extremamente complexo e estaremos atentos também à atitude das próprias instituições europeias”.
Já o Bloco de Esquerda defendeu com todas as armas o congénere grego. Primeiro foi Cecília Honório a acusar o primeiro-ministro de ser mais alemão que Angela Merkel” e a deixar a comparação: “Por cá, o conto para crianças será o do Ali Babá e os 40 ladrões?”. Colagem feita e cimentada pela porta-voz do partido, Catarina Martins que defendeu as medidas já tomadas pelo Governo de Alexis Tsipras: “Compreendemos o incómodo do Governo português perante quem, um dia depois de tomar posse, já cumpriu mais promessas eleitorais do que PSD e CDS em quase quatro anos”.
Primeiro, o PS foi mais comedido nas palavras. Vitalino Canas preferiu salientar que esta vitória é mais “uma indicação de vontade de mudança na Europa” como já foi François Hollande e Matteo Renzi na Itália. E acrescentou que “os primeiros sinais que vêm da Grécia são sinais de expectativa, são sinais no sentido certo”. Só mais tarde Eduardo Cabrita falou do “filme de terror” que foram os três anos de ajustamento. E Vieira da Silva, na declaração do partido acusou o Governo de estar “do lado errado da história”não só por causa da vitória do Syriza, mas sobretudo pela decisão do BCE e lançar medida de quantative easing, e da decisão da Comissão Europeia de flexibilizar a interpretação do Tratado Orçamental.
“Muitos dos problemas da Grécia também são um problema em Portugal, e as soluções que se venham a encontrar são do nosso especial interesse. (…) Sabemos que não há soluções fáceis nem miríficas, mas sabemos hoje que a responsabilidade de todos têm de ser combinada com a construção de respostas aos anseios dos cidadãos europeus”, disse.
Do lado da oposição ao novo governo grego, primeiro foi o PSD que considerou que aos gregos “foi-lhes apresentado o caminho mais fácil e para um povo fustigado, este caminho foi bastante atrativo”, disse o deputado Miguel Santos. Mas o problema coloca-se agora, disse, no futuro:
“como? De que maneira? Como vai resolver o problema de financiamento e como não derrubar as expectativas que criou no povo grego”.
Do lado da maioria de governo, PSD e CDS preferiram insistir que “Portugal não é a Grécia”, disse Nuno Magalhães. Os centristas até preferiram levar para plenário um assunto que é calcanhar de Aquiles para a esquerda nacional: o facto de o governo grego não ter mulheres.