Muitos de nós assobiámos na infância a música do genérico, enquanto andávamos de bicicleta, chorámos a morte de Chanquete ou aprendemos as primeiras palavras em espanhol a cantar “No nos moveran” (adaptação de uma versão popularizada por Joan Baez) ou “No matéis mi planeta por favor”.
A série de 19 episódios estreou na TVE em outubro de 1981 e passou pela primeira vez em Portugal em 1983, com várias reposições e edição em DVD (o site da TVE também disponibiliza a série na íntegra). Foi um caso sério de popularidade não só na Península Ibérica, mas também na América Latina e até em países como a Croácia ou a Bulgária.
“Verão Azul” contava as histórias de um grupo de amigos em férias no sul da Andaluzia. Apesar do ambiente descontraído e bem-humorado da trama, a série fazia também uma abordagem séria a temas como a sexualidade, o divórcio, as drogas e a ecologia, num país que vivia uma mudança de comportamentos e mentalidades depois do período franquista. Chegou até a ser criticada em Espanha pelo tom demasiado coloquial da linguagem.
A série foi filmada na localidade balnear de Nerja, 60 quilómetros a leste de Málaga. A zona é conhecida pela Caverna de Nerja, um monumento natural com pinturas rupestres, que recebe cerca de 500 mil visitantes por ano. Em homenagem à série, o município de Nerja inaugurou em 2001 o Parque Verano Azul, com uma réplica do barco de Chanquete e ruas com o nome das personagens. O passeio marítimo junto à praia tem o nome do realizador Antonio Mercero, ainda vivo.
Mas voltemos aos protagonistas de “Verão Azul”. O grupo é composto por cinco rapazes (Pancho, Javi, Quique, Tito e Piraña) e duas raparigas (Beatriz e Desi, irmãs na vida real), que criam uma amizade especial com dois adultos, a pintora Júlia e o marinheiro Chanquete.
O elenco voltou a juntar-se em 2011, para assinalar os 30 anos da estreia, mas já sem a presença de Antonio Ferrandis (Chanquete), falecido em 2000, aos 79 anos. A sua longa carreira de ator começara nos anos 40, e depois da série ainda protagonizou “Começar de Novo”, o primeiro filme espanhol a vencer o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro.
Vejamos então o que aconteceu nas vidas dos restantes protagonistas de “Verão Azul”.
María Garralón interpretou o papel de Júlia, a pintora solitária. Continuou até hoje a trabalhar com atriz em televisão, cinema e teatro. Participou na série “Farmácia de Serviço”, que a TVI transmitiu nos anos 90. Em março, estreia em Espanha o filme “A Espinha de Deus”, sobre a vida de Jesus, onde Maria Garralón faz o papel de Maria. Tem um site oficial.
Juan José Artero deu corpo ao galã Javi. É o único dos mais novos que se mantém na representação. Depois do fim de “Verão Azul”, criou com Jose Luis Fernandez o duo de cantores Pancho e Javi, com algum êxito, mas de curta duração. Formou-se depois como ator e prosseguiu a carreira no teatro, até ser escolhido para protagonizar durante uma década outra série televisiva de grande sucesso, “O Comissário”. Seguiram-se outras séries e filmes, como “Não Haverá Paz para os Malvados”, que lhe valeu uma nomeação para o Prémio Goya como melhor ator secundário.
José Luis Fernández era Pancho, o rapaz da vila, apaixonado por Bea. Depois do sucesso da série e da incursão na música com “Javi”, passou pelo inferno das drogas. Conseguiu dar a volta e dedicou-se às dobragens, tendo feito vozes em séries como os “Ursinhos Carinhosos” e “Bob Esponja”. No resto do tempo, é artesão em couro.
Gerardo Garrido completava o trio dos rapazes mais velhos, na pele de Quique. Depois de “Verão Azul”, ainda fez alguns anúncios e entrou no filme “As bicicletas são para o Verão”, mas deixou a interpretação para ir estudar Biologia, área em que nunca trabalhou. Hoje é fotógrafo profissional em Granada.
Bea, a menina bonita do grupo, foi interpretada por Pilar Torres. Não aguentou a pressão da fama, sobretudo depois da cobertura mediática dada ao seu romance com um dos operadores de câmara da série, e pôs ponto final à sua carreira de atriz. Estudou para ser auxiliar de enfermagem e trabalha num hospital de Madrid.
Cristina Torres deu vida a Desi, a menina inteligente, filha de pais separados. Tentou continuar a sua carreira de atriz, mas sem grande sucesso, participando apenas nalgumas curtas-metragens. Tal como a sua irmã Pilar, é hoje auxiliar de enfermagem num hospital de Madrid.
Miguel Ángel Valero fez o papel de Piraña, o gordinho do grupo. Depois de “Verão Azul”, formou o conjunto musical Los Pirañas com Miguel Joven (Tito) e participou em quatro filmes. Acabou por dedicar-se inteiramente aos estudos e doutorou-se em Engenharia das Telecomunicações. É professor na Universidade Politécnica de Madrid e consta que os seus alunos ainda lhe assobiam o genérico de “Verão Azul”. Também dirige o CEAPAT, organismo governamental espanhol que promove as ajudas técnicas de acessibilidade para idosos e pessoas com deficiência.
O miúdo mais novo era Tito, interpretado por Miguel Jóven. Foi uma escolha de recurso para o papel, porque o jovem ator que devia dar vida à personagem de Tito não se adaptou; Miguel Jóven era filho do dono do restaurante frequentado pela equipa de filmagens, e acabou por ficar com o papel. Depois da breve passagem pela música, na dupla Los Pirañas, Miguel trabalhou como rececionista de hotel em Nerja. Acabou por criar uma empresa que vende merchandising da série e organiza visitas guiadas pelos locais das filmagens.
Se é fã da série, pode sempre dar um saltinho a Nerja nas próximas férias e fazer uma destas visitas. O site do próprio Miguel diz-lhe tudo o que precisa de saber.