Chamam-se Óscares, são estatuetas douradas e a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas dos EUA (ou só “A Academia”, como é hábito dizer) entrega-os numa cerimónia que acontece em Los Angeles. Servem para destacar os melhores filmes, atores e realizadores e premiá-los em 24 categorias. Esta introdução não tem nada de novo — os Óscares são um costume que dura há 87 anos e quem nunca adiou a hora de ir para cama pela madrugada fora para assistir à cerimónia que coloque o dedo no ar. A novidade aqui é outra, pois este ano, no meio de tantos vencedores, há um português.

Eis, portanto, a introdução que interessa. Chama-se Gonçalo Jordão, tem 41 anos, é muralista e integrou a equipa técnica de “Grand Budapest Hotel”, filme distinguido na madrugada de segunda-feira com o Óscar de Melhor Direção Artística. O português foi uma de centenas de pessoas que passou meses e meses a trabalhar na longa-metragem dirigida por Wes Anderson e interpretada por atores como Ralph Fiennes, Adrien Brody, Murray Abraham ou Jude Law.

GonçaloJordão

Gonçalo é especialista em pintura decorativa. O telefone tocou e o convite apareceu para responsável por preencher as paredes do lóbi do cenário do hotel com murais de Caspar David Friedrich, um pintor alemão do século XIX. “Está nas minhas mãos isto sair bem feito. Se isto não sair bem feito, eles não vão por nenhuma cópia de uma imagem ampliada na parede”, confessou, em entrevista à revista Sábado, antes de cerimónia de entrega dos Óscares.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O filme retrata o dia a dia de um hotel da capital húngara, sobretudo do ponto de vista do porteiro. “Até chegarem os atores é pacífico. Quando chegam, chega o catering e, de vez em quando, ouve-se um grito: ‘Silêêênciooo!’ Ficava tudo calado e parado até que se façam as filmagens”, contou.

Formou-se em pintura decorativa na Fundação Ricardo Espírito Santo, “uma escola excecional”, como a apelidou. Sobre a experiência de trabalhar no filme que estava nomeado para nove categorias nos Óscares, o português chegou a dizer que a produção “confiava muito” em si. “Trabalhar com o Wes Anderson e com o Adam [Stockhausen, diretor artístico] foi gratificante, primeiro porque falávamos a mesma linguagem e depois porque o trabalho foi ficando a cada dia mais detalhado”, explicou.

O filme estava nomeado para nove categorias, mas Wes Anderson e os produtores do “Grand Budapest Hotel” saíram do Dolby Theatre, em Los Angeles, apenas com quatro estatuetas. Os Óscares, contudo, surgirem em categorias mais técnicas — além da Direção Artística, a longa-metragem foi considerada a melhor na Caracterização, no Guarda-Roupa e na Banda Sonora Original.

Nunca um português, nascido e residente no país, tinha constado na lista de vencedores dos Óscares que são atribuídos na cerimónia que, anualmente, agarra milhões de espetadores à transmissão televisiva do evento. Mas já houve quem estivesse, pelo menos, nomeado. “As Asas do Amor” e “A Rapariga com Brinco de Pérola” eram filmes que, em 1997 e 2003, estavam nomeados para o Óscar de Melhor Fotografia — pela qual Eduardo Serra era o responsável em ambas as películas.