Nenhuma companhia aérea de voos regulares mostrou interesse em usar o aeroporto de Beja, porque a suspensão da maioria dos projetos turísticos previstos para o Alentejo “eliminou a relevância” do transporte de passageiros na infraestrutura, segundo a ANA.

O aeroporto de Beja, que resulta do aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11 e custou 33 milhões de euros, começou a operar há quatro anos, a 13 de abril de 2011, mas, desde então, apesar de aberto, tem estado praticamente vazio e sem voos e passageiros na esmagadora maioria dos dias.

A decisão de construir o aeroporto foi tomada “num contexto em que estavam programados ambiciosos planos de investimento turístico e imobiliário, que seriam suscetíveis de gerar tráfego de passageiros” em Beja, disse à agência Lusa fonte oficial da ANA – Aeroportos de Portugal, que gere a infraestrutura. Mas, “a suspensão de grande maioria” dos investimentos “determinou, naturalmente, a eliminação da relevância da componente de transporte de passageiros” no aeroporto alentejano, reconheceu.

Por isso, disse, “nenhuma empresa de transporte aéreo regular manifestou uma intenção séria de utilizar” o aeroporto de Beja e as operações de transporte de passageiros, “suscetíveis de concretização, deverão estar associadas a projetos específicos acordados entre operadores turísticos e unidades hoteleiras da região”, como tem acontecido até agora.

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No entanto, frisou, na área de transporte de passageiros, o aeroporto de Beja continua a ser usado pela aviação executiva e “estão em curso contactos com empresas de transporte aéreo, em especial não regular”.

Na área da indústria aeronáutica, “há já um memorando de entendimento com um investidor” e está “em curso a emissão de licença para o efeito”, adiantou.

Questionada sobre que balanço a ANA faz dos quatro anos do aeroporto de Beja, a fonte alegou que a decisão de construir a infraestrutura, “um investimento estruturante que deve ser entendido como um ´sunk cost`” (custo irrecuperável), “assentou em critérios políticos e não financeiros” e, por isso, não é “adequado”, “em momento algum”, fazer um “balanço em termos operacionais ou económicos”.

A empresa escusou-se a indicar o número de voos e passageiros processados pelo aeroporto de Beja nos quatro anos de vida, argumentando que a enumeração é “inútil”, porque “não representa qualquer tendência ou indicador relevante”.

A atividade do aeroporto “limitou-se a algumas operações ´charter` e, essencialmente, a operações de aviação executiva”, indicou a fonte, referindo que a infraestrutura também foi usada para “operações de manutenção exterior de aviões”, enquanto as operações de carga foram “limitadas”.

Segundo dados prestados à Lusa pela ANA no ano passado, o aeroporto de Beja processou, nos primeiros três anos de vida, 6.624 passageiros e realizou 245 movimentos de aeronaves, sendo a “maioria” de operações “charter” não regulares.

Segundo a fonte, os custos de operação do aeroporto de Beja “representam o custo de oportunidade da manutenção de uma infraestrutura disponível” para o desenvolvimento de várias atividades, como transporte de passageiros e carga e parqueamento, manutenção e desmantelamento de aviões, as quais “assumem um caráter irregular e imprevisível”.

O custo, que foi atribuído à ANA antes da privatização, “era conhecido e foi considerado na valorização” da empresa pelos diversos candidatos e, por isso, “não constitui hoje qualquer encargo para os contribuintes, mas garante uma infraestrutura ao serviço da região”, sublinhou.

Segundo a fonte, um aeroporto está ao serviço de atividades e serviços associados à aviação civil, os quais, no caso de Beja, “são incipientes” e, por isso, “é natural que o desenvolvimento da infraestrutura seja moroso”.

Questionada sobre se a ANA considera que o aeroporto de Beja é viável, tendo em consideração a morosidade no desenvolvimento da infraestrutura, a fonte oficial da empresa respondeu: “Dos dez aeroportos da rede da ANA, apenas três remuneram adequadamente o capital investido. Porquê colocar a questão em relação a Beja?”.

A ANA vai continuar “a promover” o aeroporto de Beja “em todas as vertentes, não sendo, de momento, necessários novos investimentos, que só surgirão quando estiver esgotada a capacidade atual”, disse.