O pretexto tem sido quase sempre a comemoração dos 40 anos do PSD, que já vai fazer 41. Mas a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa já correu o país de lés-a-lés este ano convidado… pelo partido. E no que toca a ex-líderes potenciais candidatos a Presidentes da República, vai destacado na frente do campeonato: enquanto o professor já foi a dez iniciativas dos sociais-democratas desde o início do ano, Santana Lopes foi a quatro. Uma fonte próxima do provedor da Santa Casa diz que este tem tido vários convites do partido, mas optou por dosear a sua presença para “não chamar a atenção para as presidenciais”, depois de ter dito que o assunto só devia ser discutido no final do verão.

No momento em que a direção diz ainda não ter escolhido o candidato à Presidência, será que o partido já está a trabalhar para um?

A agenda de Marcelo tem marcada uma data: outubro. Até lá decide se avança ou não para Belém e a saída de jogo de António Guterres abre-lhe outras perspetivas. E ao partido também. Mas ainda Guterres não tinha dado o não final, nem Sampaio da Nóvoa o sim, e já o professor andava numa espécie de pré-campanha de pré-candidato à Presidência da República. Marcelo ri e diz que só é convidado pelo partido porque é o único dos ex-líderes do tempo de Sá Carneiro: “Do tempo de há 40 anos, sou o único”, diz ao Observador como justificação para o frenesim em que anda no país. E o partido também não lhe fica atrás.

Não são só as estruturas locais a convidar o fundador do PSD. Os  convites partem muitas vezes do secretário-geral do partido, Matos Rosa, a propósito das (longas) comemorações dos 40 anos do partido, que já levam um ano (o PSD tem data de fundação a 6 de maio e desde maio do ano passado que se desdobra em comemorações).

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Desde o início de 2015, Marcelo Rebelo de Sousa já foi a dez ações partidárias. Em março não falhou um fim de semana e em abril só descansou na Páscoa. Até junho, o calendário não está menos carregado. Esta sexta-feira esteve em Beja, este sábado vai ao Cartaxo (a um debate sobre os fundos 2020) e a Braga (à tomada de posse da comissão política) e no domingo regressa a Lisboa, mas não deixa de aparecer: há sempre o habitual comentário na TVI no jornal da noite. E em maio e junho já tem agendadas sete iniciativas: duas vezes em Santa Maria da Feira (convidado pela JSD), duas no Algarve e mais umas idas a Tondela, Vale de Cambra e Vila Franca de Xira. Algumas por causa dos 40 anos, mas outras para debates com as estruturas desde a JSD aos Trabalhadores Sociais Democratas (TSD).

Ex-líderes há muitos, mas o partido (pelo menos uma parte dele), para estas ações, já escolheu um preferido: Marcelo Rebelo de Sousa. Se no ano passado houve uma participação mais variada, com o passar da página para 2015, Marcelo reina: Francisco Pinto Balsemão foi a duas iniciativas e Pedro Santana Lopes a quatro: esta sexta-feira esteve em Leiria, antes disso esteve no Porto, Moita e Faro. O professor já leva mais quilómetros de estrada e mais abraços e beijinhos a militantes em pelo menos (as que foram possíveis de confirmar) dez iniciativas.

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Com o meu sorriso, (ainda) não me comprometo

Às vezes, nos discursos nos jantares e comícios lá ouve um pedido para que seja candidato, conta ao Observador. Marcelo sabe que há muitos militantes que o querem na frente da corrida: “É o estado de espírito de algumas bases”, diz.

Oficialmente, as justificações são as de que é a comemoração dos 40 anos do partido e que Marcelo, como ex-líder, é convidado. Mas porque o é mais que os outros? Se Manuela Ferreira Leite, Pinto Balsemão ou Durão Barroso terão menos disponibilidade, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes não terão ido a nenhuma iniciativa este ano. E o outro candidato a candidato a Presidente, Pedro Santana Lopes, se foi a várias ações em 2014, este ano refreou o ritmo. A direção do partido diz que Marcelo é convidado porque é ex-líder e ponto final.

Ao Observador, Mário Simões, presidente da distrital de Beja, onde Marcelo esteve esta sexta-feira à noite disse ter convidado Marcelo para estar numa iniciativa evocativa do boicote a um comício do PSD naquela cidade, porque Marcelo também lá esteve e teve de fugir. “Foi convidado pelo facto de ser um dos fundadores do PSD”, acrescenta.

Na praça pública, ainda há controlo. Afinal, Passos Coelho definiu na moção ao congresso que não queria um Presidente “cata-vento de opiniões” e Marcelo enfiou a carapuça. De lá para cá, o clima entre os dois amenizou e Marcelo não diz que é candidato. Também não diz que não é.

Com a saída de António Guterres de cena e com um provável apoio do PS a Sampaio da Nóvoa, há quem acredite na área do PSD que é possível ganhar ao ex-reitor da Universidade de Lisboa e isso pode levar a que no tabuleiro das presidenciais possa aparecer outro nome até ao verão: Rui Rio.

Se o PS suspirou por Guterres, há quem no PSD suspire por Marcelo. O partido não quer perder as eleições. Muito menos se as legislativas derem errado e o professor é o melhor colocado nas sondagens. “Tendo em conta o momento atual, faz sentido convidar Marcelo”, conta ao Observador um dirigente do PSD que convidou o professor para uma iniciativa. A frase quer dizer muito do espírito de algumas bases do partido. E o professor sabe:

“Eu sei que eles [alguns militantes] me querem pressionar. É o estado de espírito de algumas bases”, diz. Resposta: “Mas eu não me comprometo” e ri-se.

E o compromisso, por enquanto, nem é para o sim, nem para o não. Aguarde-se por outubro ou pelo verão.

* Este texto foi atualizado, com o registo de mais três iniciativas contadas ao ex-líder Santana Lopes.