A Grécia parece cada vez mais próxima de um incumprimento na dívida pública, o que pode obrigar as autoridades a aplicar controlos de capitais e, se o BCE cortar o acesso dos bancos gregos ao financiamento, a saída do euro pode ser uma inevitabilidade. Esta é a visão dos analistas no início de mais uma semana decisiva para Atenas. Neste contexto, o banco britânico Standard Chartered publicou uma nota de análise em que se questiona sobre as consequências que a Grexit teria para Portugal. A conclusão? Tudo irá depender do “compromisso político contínuo com a disciplina orçamental e com as reformas“.

“Se a Grécia vier a sair do euro, os holofotes irão virar-se para Portugal e para a Irlanda, os outros países que foram resgatados durante a crise de 2010-2012 e, respetivamente, o terceiro e o quarto países mais endividados da zona euro” (depois da Grécia e de Itália, em dívida total na proporção do PIB), escrevem os analistas Sarah Hewin e Achilleas Chrysostomou, em nota de análise recente a que o Observador teve acesso.

No relatório intitulado “Se a Grécia sair, Portugal pode ficar?“, o banco britânico nota que “o crescimento económico da Irlanda tem sido mais robusto, já que o país tem sido capaz de exportar para garantir crescimento”. “Já Portugal tem tido um crescimento moderado desde 2013, ainda que o clima atual seja muito positivo“. Contudo, “o país continua a ter um rating de lixo em todas as agências menos uma [a canadiana DRBS] e o endividamento elevado, o crédito malparado e as tendências demográficas desfavoráveis continuarão a ser, nos próximos anos, um obstáculo para o crescimento“. O Standard Chartered assinala, contudo, que “o saldo primário positivo [diferença positiva entre receita e despesa do Estado, excluindo juros da dívida] deverá baixar o rácio de dívida pública face ao PIB para 124% este ano”.

A redução dos níveis de dívida pública é, para o Standard Chartered, a variável decisiva para Portugal. Num caso de saída da Grécia da zona euro, “as compras de dívida pelo BCE [não só ao abrigo dos estímulos agora lançados como, eventualmente, o programa de socorro lançado em 2012 mas nunca usado – o OMT) deverão garantir que Portugal não perde o acesso ao mercado“. “Mas se existir um aumento brusco dos custos de financiamento do Estado, isso poderá prejudicar a trajetória de redução da dívida”, diz o Standard Chartered.

É por isso que será crucial que os investidores externos mantenham a “confiança na sustentabilidade da redução da dívida pública“. Será, por isso, importante continuar a “dar provas de que as reformas estão a melhorar as perspetivas de crescimento de médio prazo”e que continua a existir “um compromisso político contínuo com a disciplina orçamental e as reformas“.

O Standard Chartered conclui dizendo que “Portugal é visto como estando numa categoria diferente da Grécia, porque terminou o programa de resgate correspondendo às exigências”. Além disso, “as reformas estruturais estão a dar frutos em termos de aumento de competitividade e de redução dos desequilíbrios”. “Cabe à política não descarrilar os esforços de reformas“, remata o banco de investimento britânico.

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