Manuel Dias Loureiro, ex-ministro da Administração Interna, ex-conselheiro de Estado e ex-administrador do BPN, desvaloriza o elogio inesperado que recebeu na sexta-feira por parte do primeiro-ministro e que suscitou a crítica da esquerda e o silêncio dos partidos da maioria. Em declarações ao Expresso, o social-democrata não quis comentar diretamente as palavras do primeiro-ministro, sublinhando que já não está na política. “Estou fora. Praticamente não leio jornais, vejo as gordas. A minha vida é fora, desliguei da política”, disse, referindo-se a Luanda, cidade onde “passa a maior parte do tempo”. Ao mesmo jornal, Dias Loureiro explica que não é conselheiro de Passos, que não vai “a S. Bento há anos” e que estava presente na inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira, onde recebeu pessoalmente o elogio do primeiro-ministro, porque é “um velho amigo” do dono da empresa. Aguiar da Beira é a terra natal do social-democrata.

E o que disse Passos? “Conheceu mundo. É um empresário bem-sucedido. Viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos”, afirmou.

Dias Loureiro, juntamente com Duarte Lima e Arlindo de Carvalho, são alvo de processos-crime relacionados com a Sociedade Lusa de Negócios (SLN), entidade que detinha o BPN, informou em 2012 a Procuradoria-Geral da República. Em 2009, demitiu-se do cargo de conselheiro de Estado depois de ter sido acusado por José Oliveira e Costa de mentir, durante as audições da comissão de inquérito ao caso BPN.

As palavras de Passos foram criticadas à esquerda e recebidas com silêncio à direita. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Francisco Seixas da Costa, criticou o elogio do primeiro-ministro a uma pessoa ligada a “trapalhadas financeiras” e a “um sinistro instituto bancário”.

“Mas mais do que o gesto de estender de mão a Loureiro, o dr. Passos Coelho teve o desplante de o chamar à colação quase como paradigmático de um mundo de negócios que considerou destacável, quase exemplar. Esta absolvição política revela muito de uma certa forma de viver a política, porque põe a nu o referencial que serve de medida a um modo de estar no serviço público”, escreveu no seu blogue, acrescentando que, “desde que provado o delito, o ‘name and shame’ dos políticos tem de ser a norma, porque a prevenção e a justiça também se faz através da evidência dos exemplos”.

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