A Rússia organiza este sábado uma grande parada militar para assinalar o 70.º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial, numa clara demonstração de poderio militar no meio do impasse com o Ocidente sobre a Ucrânia. As grandes potências do Ocidente que lutaram ao lado da Rússia contra a Alemanha, no entanto, não compareceram em sinal de boicote pela posição de Moscovo face ao conflito com o leste da Ucrânia, e comemoraram o fim da guerra separadamente. Já o secretário-geral da ONU e os líderes de países como a China, Venezuela e Cuba não faltaram à chamada.

No que é visto como uma punição pelo envolvimento do Kremlin na Ucrânia, os países ocidentais liderados pelos aliados da Rússia na II Guerra Mundial estão a boicotar as celebrações do 9 de maio, deixando Vladimir Putin marcar a data apenas na companhia dos líderes da China, de Cuba e da Venezuela. A Ucrânia, pela primeira vez em 70 anos, assinalou a data separadamente da Rússia, e ao lado do resto do Ocidente, acusando Putin de estar a explorar o aniversário da vitória na Guerra apenas para exibir o seu poderio militar, em mais um sinal de braço de ferro com o Ocidente.

Os EUA e grande parte da Europa reservaram as celebrações do fim da guerra para sexta-feira, um dia antes. Em Washington, uma grande variedade de aviões antigos voaram sobre a capital em homenagem aos veteranos, numa cerimónia realizada no memorial da Segunda Guerra Mundial. Barack Obama prestou homenagem aos que serviram ao lado dos Aliados na guerra, classificando-os de “a geração que literalmente salvou o mundo”.

Também o presidente francês François Hollande apelou à unidade, num discurso em Paris, junto ao túmulo do Soldado Desconhecido, descrevendo o Dia da Vitória como o dia em que “venceu um ideal em detrimento de uma ideologia totalitária”. No Reino Unido, a braços com umas eleições legislativas, as celebrações também não passaram ao lado, com uma recriação do espírito de festa, música e alegria, que se viveu nas ruas de Londres no dia da Vitória há 70 anos. O recém-re-eleito primeiro-ministro, David Cameron, participou nas festividades.

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Em reação ao boicote do Ocidente, Vladimir Putin apontou baterias aos EUA no discurso deste sábado, em Moscovo, acusando a Administração Obama de estar a tentar “criar um mundo unipolar” e de ignorar a cooperação internacional.

Exibição militar e minuto de silêncio em Moscovo

Cerca de 16.000 tropas participaram no desfile na Praça Vermelha, em Moscovo, que também exibiu armas como as da nova geração de tanques Armata T-14, numa das maiores comemorações do Dia da Vitória em décadas. A União Soviética perdeu aproximadamente 27 milhões de soldados e civis durante a II Guerra Mundial — mais do que qualquer outro país — e o triunfo do Exército Vermelho continua a ser uma enorme fonte de orgulho nacional.

O Dia da Vitória une os russos de todas as classes sociais, independentemente das simpatias políticas, sendo esperadas grandes multidões no centro de Moscovo. Pela primeira vez nas comemorações do final da II Guerra em Moscovo, guardou-se este sábado um minuto de silêncio em memória das vítimas.

O Presidente russo, Vladimir Putin, que destacou o papel do exército soviético na derrota da Alemanha nazi, foi o encarregado de anunciar o minuto de silêncio. Mas antes, Putin sublinhou perante os milhares de convidados e veteranos da guerra que a “aventura hitleriana” foi “uma lição horrível para toda a comunidade internacional”.

O Chefe do Kremlin acrescentou que agora, 70 anos depois, a história “apela de novo à razão e vigilância”. “Não devemos esquecer que a ideia da supremacia racial e da exclusão levou à mais sangrenta das guerras”, disse. Putin agradeceu a França, à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos pela contribuição na vitória contra os nazis.

“Agradeço aos povos da Grã-Bretanha, de França e dos Estados Unidos pela participação na vitória. Felicito os diferentes países antifascistas que tomaram parte nos combates contra os nazis nas fileiras da resistência e da clandestinidade”, declarou o Presidente russo, antes do minuto de silêncio em memória das vítimas da guerra.