Quando se fala sobre alterações climáticas a preocupação não se centra exclusivamente no aumento global da temperatura, mas também na ocorrência de fenómenos extremos, como secas, cheias ou furacões. Mas embora a preocupação deva ser global, visto que as alterações afetarão todo o planeta, a expressão das mudanças pode ser avaliada numa escala mais pequena. É assim importante perceber o que afeta os padrões de circulação atmosférica em termos regionais e até locais.
Uma análise de 35 anos (até 2013) das variações dos padrões de circulação atmosférica no hemisfério norte, levaram a equipa de Daniel Horton, investigador na Universidade de Stanford, na Califórnia (Estados Unidos), a propor que foram estas variações que causaram o aumento da temperatura no verão europeu e a diminuição da temperatura no inverno asiático.
O estudo publicado na Nature esta semana assenta, no entanto, numa amostra pequena – muito poucos anos – para o que seria desejável numa investigação sobre clima, refere Theodore Shepherd, do Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading (no Reino Unido), num comentário também publicado pela Nature. “A variabilidade climática manifesta-se pela ocorrência de mudanças nos padrões de circulação atmosférica, que podem variar muito de ano para ano, mas que também podem mostrar variações ao longo de períodos multidecadais.”
Apesar da abordagem estatística que os autores dizem ser robusta, Theodore Shepherd considera que são precisos mais dados físicos sobre a forma como os padrões de circulação atmosférica são afetados pelas alterações climáticas para elaborar hipóteses que possam ser testadas.
Pedro Garrett, investigador no grupo de Adaptação e Modelação aos Impactos das Alterações Climáticas (CCIAM) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, fez um comentário equivalente sobre outro estudo publicado também esta semana na Nature Communications. O investigador defende que os processos físicos têm de ser estudados, para que haja maior robustez na relação causa-efeito. Só depois dos modelos criados é que as previsões estatísticas podem ser incorporadas para melhorar essas projeções, disse Pedro Garrett ao Observador.
A equipa de Sarah Ineson, investigadora do Centro Hadley para a Prevenção e Investigação do Clima (no Reino Unido), verificou que os ciclos solares (que duram cerca de 11 anos) têm cada vez menos manchas solares durante os picos de energia. Assumindo que a radiação está associada ao número de manchas, o grupo de investigação postulou que a diminuição do número de manchas e, consequentemente, da quantidade de radiação ultravioleta, pode afetar a circulação das correntes atmosféricas. Mas descartam que a variação seja tão grande que possa reverter o curso previsto para as alterações climáticas.
“O estudo é baseado em relações estatísticas e não físicas”, reforça Pedro Garrett. “Assenta em muitas suposições.” O investigador defende que são precisos mais estudos para perceber qual a influência da radiação ultravioleta no clima. É necessário compreender os processos físicos para entender de que forma a alteração de um parâmetro pode afetar todo o sistema.