Antero Henrique foi constituído arguido por suspeitas de espionagem a atletas do FC Porto. O vice-presidente do clube servia-se da SPDE, empresa de segurança no centro da investigação desta quinta-feira, para vigiar ilegalmente os futebolistas, avança o Correio da Manhã.

O jornal adianta que existem “milhares de horas de escutas telefónicas aos suspeitos, tendo sido transcritas várias conversas entre Antero Henrique e Eduardo Silva, dono da SPDE.”

No âmbito das buscas – relacionadas com a Operação Fénix e realizadas esta quinta-feira na sua casa – a PSP apreendeu 70 mil euros em notas de 500, e Antero Henrique foi constituído arguido. A sede da SPDE também foi um dos alvos da operação, depois de Eduardo Silva ter sido detido.

Mas, recorde-se, Antero Henrique e Eduardo Silva não foram os únicos visados na megaoperação: no total foram 50 as buscas. Entre elas, à própria SAD do FC Porto, para apreensão dos contratos que ligavam o clube ao proprietário. No fim, foram detidas 15 pessoas.

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Dos detidos da denominada “Operação Fénix”, refere o comunicado enviado na quinta-feira pela PGR, “13 [foram-no] em cumprimento de mandados de detenção fora de flagrante delito e 2 em flagrante delito”. As buscas foram efetuadas em “Lisboa, Porto, Amarante, Lamego, Braga, Vila Real e Lousada”.

“A investigação está relacionada com atividades ilícitas no âmbito de empresa de segurança privada em estabelecimentos de diversão noturna, suscetíveis de integrar a prática de crimes de associação criminosa, de exercício ilícito da atividade de segurança privada, de detenção de arma proibida, de extorsão agravada, de coação, de ofensas à integridade física qualificada, e de favorecimento pessoal. Foram apreendidas viaturas automóveis, quantias monetárias, armas e documentação”, lê-se ainda no comunicado.

A detenção de Eduardo Correia

O dono da SPDE foi detido em sua casa, em Matosinhos. Esta operação contou com elementos da Unidade Especial de Polícia e Eduardo Silva terá chamado a GNR por acreditar ser um grupo de seguranças rivais. Na sua casa foi ainda preso Alberto Couto, que vestia um colete anti-bala da PSP. Couto é um ex-agente agora dedicado à segurança privada, depois de ter sido expulso da PSP na sequência da Operação Noite Branca. Eduardo Silva chamou-o para lhe dar proteção.
A PSP divulga, também, na quinta-feira, a apreensão de 40 armas, cerca de 121 mil euros, 10 viaturas e munições de diversos calibres.

O juiz Carlos Alexandre interroga os detidos esta sexta-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal onde lhes serão decretadas as respetivas medidas de coação.

Outro vice-presidente de clube, mais um detido

Não é a primeira vez que um vice-presidente de um clube está no meio de investigações e operações policiais. Paulo Pereira Cristóvão, ex-inspetor da Polícia Judiciária e ex-vice-presidente do Sporting, aguarda julgamento no Estabelecimento Prisional de Évora, depois de ser detido pela PJ a 3 de março de 2015. Na mesma operação, o líder da claque Juventude Leonina, ‘Mustáfa’, também foi detido.

Pereira Cristovão é suspeito de associação criminosa, roubo e sequestro. O antigo PJ terá passado informações sobre vítimas de investigações ao grupo criminoso do qual fazia parte, sendo indiciado como um dos mentores dos roubos e sequestros que a associação levou a cabo.

Tudo terá começado exatamente com a espionagem e controlo dos jogadores do Sporting ordenada pelo próprio presidente do Sporting, Godinho Lopes, como este aliás confirmou em tribunal.

Enquanto quadro da PJ, para onde entrou em 1990, o inspetor tinha alguns processos mediáticos em mãos: o caso “Joana”, é um exemplo. Quando saiu, em 2007, criou uma empresa de consultoria e investigação.

Nesta investigação, o ex-vice-presidente do Sporting é suspeito de associação criminosa, roubo e sequestro. Foi Paulo Pereira Cristovão que forneceu informações sobre as vítimas e seus pertences ao grupo criminoso do qual fazia parte. O ex-inspector será mesmo um dos estrategas dos roubos e sequestros que a associação levou a cabo.

Paulo Pereira Cristovão, ´Mustáfa` e outros 13 suspeitos integravam uma organização criminosa que, simulando operações policiais para cumprimento de buscas domiciliárias ordenadas judicialmente, roubava o interior de residências. Em algumas situações, terão mesmo utilizado as fardas para sustentar a prática criminosa.

Sporting e o árbitro do Porto

Há três anos, então ainda vice-presidente do Sporting, Pereira Cristovão, já tinha sido constituído arguido no caso do árbitro do Porto, na sequência de buscas que a PJ fez às instalações da SAD do Sporting e da sede do Sporting Clube de Portugal, no âmbito de uma investigação de crime de denúncia caluniosa qualificada.

A investigação suspeitou de um caso de corrupção do auxiliar José Cardinal, depois de o árbitro ter recebido na sua conta bancária 2000 euros em notas e a poucos dias do encontro entre Sporting e Marítimo, dos quartos de final da Taça de Portugal. O auxiliar estava destacado para o jogo, mas foi substituído pelo Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).